“Ao chegar a plenitude dos tempos, Deus enviou o Seu Filho, nascido de mulher, nascido sujeito à Lei, para resgatar os que se encontravam sob o jugo da Lei e para que recebêssemos a adopção de filhos” (Gl 4, 4-5). Hoje o mundo colocou o seu olhar sobre uma Mulher e Mãe: MARIA… Não se trata de uma mulher qualquer mas a Mulher de Nazaré, Aquela que vem abrir de novo a porta da salvação que Eva havia fechado. O Pecado da Humanidade, no seu início, é agora arrebatado para longe do coração porque, Deus em Maria nos oferece o primado do Amor: JESUS, o Verbo que por nós, e para nós, se torna humano. É impressionante como desde sempre o Cristianismo celebra com fé a Mãe de Jesus como Mãe da Igreja e como Mãe de Deus. Os Padres da Igreja, mestres de espiritualidade cristã, deram voz à fé da comunidade dos crentes, pondo em evidência as verdades que se referem à excepcional especificidade de Maria. Ela é a Theotokos, a Deipara, a Mãe de Deus, que a Igreja honra com um “culto especial” (Lumen gentium, 66). Maria é a arca de Nova Aliança, que leva em si o Salvador. Assim no-lo afirma Isabel: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. E donde me é dado que venha ter comigo a mãe do meu Senhor. Pois, logo que chegou aos meus ouvidos a tua saudação, o menino saltou de alegria no meu seio. Feliz de ti que acreditaste, porque se vai cumprir tudo o que te foi dito da parte do Senhor.” (Lc 1, 42-45). Como pode um ser, no ventre materno, reconhecer que está diante de tão grande Mulher? Mais ainda; como pode reconhecer estar diante do Salvador, também Ele no ventre da Sua Mãe? Maria é a predestinada para nos revelar o grande amor que o Pai nos tem. Ela é chamada, desde o ventre de Ana, a não ter pecado para gerar em si o autor da Vida, Aquele que liberta todo o Homem do mal; Ela é a arca da Nova Aliança. E Maria, a Mulher pobre e simples de Nazaré, exclama perante tal saudação: “A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador. Porque pôs os olhos na humildade da sua serva. De hoje em diante, me chamarão bem-aventurada todas as gerações. O Todo-poderoso fez em mim maravilhas. Santo é o seu nome.” (Lc 1, 46-49) Maria aclama o Seu Senhor, Ele que a Ela torna Senhora e Rainha do mundo, Mãe da Humanidade, modelo de vida para tantos… A escrava que se torna Senhora, a serva que se torna Rainha, a Filha que se torna Mãe… Aquela que nasce no contexto, e espera a promessa, da antiga Aliança torna-se a portadora da Nova Aliança. Ó Imaculada concebida! Tu, sim Tu, Aquela que teve a dita de nascer sem mácula, de ser a predestinada a não precisar do perdão para o pecado contraido em Adão. Tu foste escolhida desde sempre como merecedora de ser concebida com tal honra e dignidade. Poucos reconheceram, como o Beato Franciscano João Duns Escoto (1266-1308) cantor e defensor da Imaculada Conceição, que escreveu a esse respeito: “Se portanto Cristo nos reconciliou com Deus da maneira mais perfeita, mereceu que fosse removido de alguém este gravíssimo castigo. Isto não pôde ser senão a favor da sua Mãe”. Tão pouco se fala deste grande teólogo e foi ele quem de uma forma tão especial deu ao mundo a reflexão sobre a Imaculada Conceição da Virgem Maria. E em Lourdes, França, é Maria que afirma “Eu sou a Imaculada Conceição” e o Papa assim o confirma. Só a ternura do amor vivido pelo humanismo franciscano poderia levar tão nobre causa à barra de um tribunal, eclesiástico. E a Mãe, Senhora do mundo e Rainha da Ordem Franciscana, confirma o que desde há oito séculos os Seus filhos, nascidos à sombra da Porciuncula, já celebravam em seu coração. Ali Francisco de Assis entrega o legado da Menoridade Franciscana, que Cristo lhe concedeu ao dar-lhe irmãos, sob a protecção da Senhora dos Anjos da Porciuncula. E é esta mesma capelinha, ainda hoje, o lugar do PERDÃO de Assis. Cristo é a Palavra Encarnada em Maria. Na sua segunda Carta aos Fiéis escreve Francisco de Assis: “o Pai Altissimo, pelo seu arcanjo S. Gabriel, anunciou à santa e gloriosa Virgem Maria, que esse Verbo do mesmo Pai, tão digno, tão santo e glorioso, ia descer do céu, a tomar a carne verdadeira da nossa humana fragilidade em sua entranhas. E sendo Ele mais rico do que tudo, quis, no entanto, com sua Mãe bem-aventurada, escolher vida de pobreza” (2 CF I, 4-5). Na carta a toda a Ordem, o mesmo Francisco, confessa os seus males não esquecendo aí também Aquela que trouxera o Perdão: “além disso, confesso todos os meus pecados ao Senhor Deus, Pai, Filho e Espírito Santo; à Bem-Aventurada Virgem Maria e a todos os Santos do céu…” (CO 38). E o seu amor por Maria era tal que mesmo ao escrever um fício da paixão outra antífona não encontrou senão “Santa Virgem Maria”, que repete antes e depois de todos os salmos. Maria, Mãe da Humanidade redimida em Cristo Jesus, o Verbo feito Menino, é também a Mãe que Francisco leva no seu coração. Ainda hoje, é ali na Porciuncula, berço da Ordem, que o coração de Francisco bate mais forte, ali fundou a Menoridade, ali recebeu Clara e tantas filhas suas, ali ele mesmo quis entregar o seu corpo à irmã morte corporal, ali onde a presença maternal da Imaculada tinha o aconchego do primado do Amor de Deus. Neste dia em que tantos celebraram o dia da mãe, em que Portugal celebrou a sua Padroeira e Rainha, em que todos cantámos Avé Maria… hoje mesmo, ao declinar do dia, deixo esta reflexão que mais não é que o deixar falar o coração, sem teologias ou filosofias, sem preocupação pela história, mas por celebrar e agradecer à Mãe tanto e tanto que d’Ela nos vem. E com Francisco de Assis quero exclamar: "Salvé, Senhora santa Rainha, santa Mãe de Deus, Maria, Virgem convertida em templo, e eleita pelo santíssimo Pai do céu, consagrada por Ele com o seu santíssimo e amado Filho e o Espírito Santo Paráclito: que teve e tem toda a plenitude da graça e todo o bem! Salvé, palácio de Deus! Salvé, tabernáculo de Deus! Salvé, casa de Deus! Salvé, vestidura de Deus! Salvé, mãe de Deus! E vós, todas as santas virtudes, que pela graça e iluminação do Espírito Santo sois infundidas no coração dos fiéis, para, de infiéis que somos, nos tornardes fiéis a Deus” (SVM)
Maria, Mãe Imaculada, a ti ofereço tudo o que sou e tenho… leva tudo ao Pai para que por Ti, Maria, Mulher e Mãe, o meu pobre louvor seja para honra e glória da Santíssima Trindade.