Silenciar... "Kalita" (Brasil)

Hoje partilho com os amigos do "Retalhos" esta meditação que sai do ciração de "Kalita"...
Do pouco que posso, há algum tempo, saber é uma mulher de fé com o seu marido e com os amigos.
Lutam por ser agraciados com o Dom de gerar VIDA...
Para estes amigos a minha/nossa comunhão de amizade e oração com a certeza de que Deus se dignará realizar Vida em cada dia da história desta família.
OBRIGADO "Kalita" por tão belo testemunho que nos enviou.

SILENCIAR...

Tenho meditado muito sobre o exercício do silencio. Vejo no mundo muito barulho. As pessoas não se dedicam mais a momentos de silencio interior, pensar na vida, pensar em Deus, conversar com Ele. Silenciar coloca as pessoas de frente consigo mesmas e isso para muitas é aterrorizante. Não querem estar em contato consigo porque não sabem quem são, porque não se reconhecem. Muitos. Não buscam a Deus , não se enchem Dele e por isso quando mergulham em si não encontram nada a não ser a desordem.
Pelo tempo de silencio que venho passando tenho a oportunidade de olhar pra dentro de mim, confesso que há tempos atrás quando olhei pra dentro de mim pela primeira vez senti desespero, queria fugir porque o que trazia dentro de mim não me agradava, o silencio do nada dentro de mim gritava os meus pecados, meus medos, minhas fraquezas, melhor mesmo era estar nas festas com som ensurdecedor, assim não escutava mais os sons do silencio em mim.Bom mesmo era fazer varias coisas ao mesmo tempo, com pressa pra não sobrar tempo pra pensar na vida, aproveitando da loucura que o mundo nos impõe de cada vez mais, ter menos tempo pra tudo.
Até o dia em que Deus me resgatou, até o dia em que O deixei me resgatar.Parei para olhar dentro de mim e ao encontrar o vazio senti dor e solidão, más Deus me preencheu a medida que eu O buscava, e do silencio gritante do nada que havia em mim, Deus foi enchendo de amor, de descobertas, de perdão, de silencio fértil na capela vazia, fui me encontrando e me reconhecendo. Somos imagem e semelhança de Deus e quanto mais perto Dele mais me reconheço.O mundo está longe de Deus e quanto mais longe menos as pessoas se reconhecem, se tornam menos humanas, menos santas,menos disponíveis, menos orantes, se tornam mais bichos.
O silencio da Virgem Maria ao meditar em tudo que o Arcanjo Gabriel lhe dissera me é constragendor e exemplo. Seu silencio e depois um “Eis aqui a serva do Senhor”, sinal de quem se cala, medita e Confia. O silencio de Jesus ao passar 40 dias no deserto em oração, se revestindo do Espírito Santo. Sinal de Deus-homem que se cala, ora e confia.
Onde está nosso silencio? A feliz frase “A paz que procuras está no silencio que não fazes” nos demonstra o porque estamos longe da paz que ansiamos.Onde está o silencio e meditação ao se passar as contas do rosário? Muitos podem até estar em silencio, más dentro de si não há silencio, há uma balburdia que não a deixa encontrar-se com o Senhor em oração. Precisamos aprender a silenciar, e mesmo quando Deus não nos responde, como acontece comigo agora, no tempo de espera por um filho, de luta contra a infertilidade, confio que Deus está agindo. Confio-lhe meu silencio e confio no silêncio Dele. A hora certa Ele agirá, e responderá aos meus anseios e ao seus também.
Encerro esta meditação com essa fantástica estória, que nos instrui.

E agradecendo ao Frei Alberto a oportunidade de partilhar com todos. Deus vos abençoe.

Silêncio de Cristo

Uma antiga lenda norueguesa narra este episódio sobre um homem chamado Haakon, que cuidava de uma ermida à qual muita gente vinha orar com devoção.

Nesta ermida havia uma cruz muito antiga, e muitos vinham ali para pedir a Cristo que fizesse algum milagre.

Certo dia, o eremita Haakon quis também pedir-lhe um favor. Impulsionava-o um sentimento generoso. Ajoelhou-se diante da cruz e disse:

-Senhor, quero padecer por vós. Deixai-me ocupar o vosso lugar. Quero substituir-vos na Cruz. E permaneceu com o olhar pendente da cruz, como quem espera uma resposta. O Senhor abriu os lábios e falou.

As suas palavras caíam do alto, sussurrantes e admoestadoras:

-Meu servo, cedo ao teu desejo, mas com uma condição.

- Qual é, Senhor?, perguntou com acento suplicante Haakon. É uma condição difícil? Estou disposto a cumpri-la com a tua ajuda!

-Escuta-me: Aconteça o que acontecer, e vejas tu o que vires, deves guardar sempre o silêncio.

Haakon respondeu:

- Prometo-o, Senhor!

E fizeram a troca sem que ninguém o percebesse.
Ninguém reconheceu o eremita pendente da cruz; quanto ao Senhor, ocupava o lugar de Haakon. Durante muito tempo, este conseguiu cumprir o seu compromisso e não disse nada a ninguém. Certo dia, porém, chegou um rico. Depois de orar, deixou ali esquecida a sua bolsa. Haakon viu-o e calou. Também não disse nada quando um pobre, que veio duas horas mais tarde, se apropriou da bolsa do rico. E também não quando um rapaz se prostrou diante dele pouco depois para pedir-lhe a sua graça antes de empreender uma longa viagem. Nesse momento, porém, o rico tornou a entrar em busca da bolsa. Como não encontrasse, pensou que o rapaz se teria apropriado dela; voltou-se para ele e interpelou com raiva:

-Dá-me a bolsa que me roubaste!

O jovem, surpreso, replicou-lhe: -Não roubei nenhuma bolsa!

- Não mintas; devolve-me já!

- Repito que não apanhei nenhuma bolsa!

O rico arremeteu furioso contra ele.

Soou então uma voz forte: - Pára!

O rico olhou para cima e viu que a imagem lhe falava.

Haakon, que não conseguiu permanecer em silêncio diante daquela injustiça, gritou-lhe, defendeu o jovem e censurou o rico pela falsa acusação. Este ficou aniquilado e saiu da ermida. E o jovem saiu também porque tinha pressa para empreender a sua viagem.
Quando a ermida ficou vazia, Cristo dirigiu-se ao seu servo e disse-lhe:

- Desce da Cruz. Não serves para ocupar o meu lugar. Não soubeste guardar silêncio.

- Mas, Senhor, como podia eu permitir essa injustiça?

Trocaram de lugar. Cristo voltou a ocupar a cruz e o eremita permaneceu diante dela. O Senhor continuou a falar-lhe:

- Tu não sabias que era conveniente para o rico perder a bolsa, pois trazia nela o preço da virgindade de uma jovem. O pobre, pelo contrário, tinha necessidade desse dinheiro e fez bem em levá-lo; quanto ao rapaz que ia receber os golpes, a suas feridas o teriam impedido de fazer a viagem que, para ele, foi fatal: faz uns minutos que o seu barco acaba de soçobrar e que ele se afogou. Tu também não sabias isto; mas eu sim. E por isso me calo. E o Senhor tornou a guardar silêncio.
Muitas vezes nos perguntamos por que Deus não nos responde. Por que Deus se cala? Muitos de nós quereríamos que nos respondesse o que desejamos ouvir, mas Ele não o faz: responde-nos com o silêncio. Deveríamos aprender a escutar esse silêncio. O Divino Silêncio é uma palavra destinada a convencer-nos de que Ele, sim, sabe o que faz. Com o seu silêncio, diz-nos carinhosamente: "Confia em mim, sei o que é preciso fazer!