Recebi há pouco uma sms de alguém dizendo:“Venho fazer uma súplica. Hoje senti necessidade de ler algo mais profundo sobre o Dia do Senhor do que a homília que ouvi… Porque não escrever algo no blog? (…)”Depois de duas Missas Dominicais volto às leituras. Não sei se para fazer alguma reflexão profunda, sabeis que não sou biblista e destas coisas eles sabem em profundidade, mas para voltar a escutar o que a Palavra tem para me dzer. E se me disser algo a mim, certamente poderá querer dizer o mesmo aos amigos.
O profeta Malaquias (Mal 3, 19-20ª) anuncia o “Dia do Senhor”. Este anúncio parece, logo à partida, estar cheio de negatividade onde surge um Deus castigador à mente daqueles que não souberem continuar a ler até ao fim. O Dia do Senhor, diz o Profeta, é “ardente como uma fornalha”. Nós que falamos sempre deste dia como dia de Salvação e não de castigo podemos aquietar-nos logo aqui e não escutar mais a Palavra. Deus não é castigador, não quer o mal dos Seus filhos, obra das Sua mãos. O castigo não é de Deus mas das nossas atitudes que afastam de Deus. Por isso o Profeta diz que é castigo para os ímpios mas sinal de bênção e salvação “para vós que temeis o meu nome,” e continua a promessa de que para estes “nascerá o sol de justiça”.
Deus intervém na nossa história não para castigar mas para salvar. A perseverança levar-nos-á ao encontro deste projecto salvador de Deus.
O Salmo que nos é proposto rezar - Salmo 97 - conduz assim a nossa alma a cantar e rejubilar na alegria desta promessa porque “O Senhor virá governar com justiça”.
E neste salmo a aclamação ganha vida nas danças, nos instrumentos musicais, na alegria de que o Senhor virá ao nosso encontro para nos salvar. É o convite a que a terra, o céu, o mar, tudo cante em louvor “Diante do Senhor que vem, para julgar a terra; julgará o mundo com justiça e os povos com equidade.
Paulo na Carta aos Tessalonicensses (2 Tes 3, 7-12) faz um alerta claro ao que deve ser a nossa atitude de espera pelo Senhor. Não devemos ficar parados como que à sombra da árvore à espera que Ele venha. Em Paulo é muito clara a acção de Deus por nosso intermédio. Cristo vem em cada momento através dos que estão connosco. É nos amigos, irmãos, homens e mulheres que connosco convivem que a salvação se realiza no hoje da nossa vida. Falta muitas vezes ao mundo e à Igreja esta consciência de que formamos todos o Corpo de Cristo e que todos nós, membros activos desse Corpo, temos que trabalhar pela causa do Reino. O trabalho afasta a ociosidade e traz a alegria da partilha e do anúncio do Reino. Paulo dá o testemunho de si mesmo: “Vós sabeis como deveis imitar-nos, pois não vivemos entre vós na ociosidade, nem comemos de graça o pão de ninguém. (…) Quem não quer trabalhar, também não deve comer. Ouvimos dizer que alguns de vós vivem na ociosidade, (…). A esses ordenamos e recomendamos, em nome do Senhor Jesus Cristo, que trabalhem tranquilamente, para ganharem o pão que comem.”
Esta exortação de Paulo parece dura mas na verdade não é. Ele olha os cristãos com muito amor, com preocupação de pai e irmão mais velho na fé, com solicitude pastoral pelo rebanho que Cristo lhe confiara. Exortar é um bem quando é sinal de amor e caminho percorrido e nisso – Paulo – foi um dos mais exímios pilares da nossa fé. O mundo de hoje precisa ouvir muitos “Paulos” que apontem a verdade que liberta, por vezes dura esta verdade, mas significativa e significante no sentido que nos acorda para um cristianismo em formas e moldes novos mas sempre de trabalho e testemunho. Comer o Pão da Palavra revelada e da Eucaristia fraterna tem que ter, obrigatoriamente, da nossa parte o eco positivo de quem arregaça as mangas e trabalha pelas causas do Evangelho. Veio-me agora à mente a preocupação de Bispos e Padres, catequistas e educadores na fé, pais e avós pelo facto de se sentir que a Igreja parece estar a envelhecer. As nossas homilias por vezes tão pobres (as minhas certamente tantas vezes o são), onde a maior parte dos cristãos sem saber o que fazem na assembleia, sem escutarem a Palavra, sem serem capazes de querer, sim querer, fazer algo pelo bem das Comunidades. Poderia dar aqui o exemplo de tantos incentivos que eu mesmo tenho feito, para cantores, leitores, acólitos e… olho para tanta gente que bem poderia dar um pouco mais de si e as nossas vivências de fé seriam tão mais ricas. Mas… também é verdade que temos muito a agradecer a Deus, e como temos, por aqueles – poucos mas bons – que já dizem sim em tantos serviços pastorais e eclesiais.
Paulo desafia-nos a ser como ele, a imitarmos o seu testemunho de humildade e serviço.
No Evangelho (Lc 21, 5-19) temos Aquele que Malaquias prometera estar para vir julgar com justiça a anunciar a forma como iria cumprir a dita promessa de salvação: “Dias virão em que, de tudo o que estais a ver, não ficará pedra sobre pedra: tudo será destruído”.
Escutar esta Palavra de Cristo leva a pensar no Templo de Jerusalém mas o Templo que é o próprio Cristo, da qual todos nós somos pedras vivas, é maior e mais importante.
Cumprir a Salvação prometida implica dar a vida pelas pedras vivas que somos. Mas é o próprio Cristo que alerta para os perigos que o mundo tem e para as consequências desses perigos, ou da entrega a esse mesmos. O anúncio de traição, catástrofes, guerras e famílias desavindas, julgamentos e morte parece querer deitar de novo por terra a promessa de justiça divina. Mas vem logo em seguida e certeza de que em todas estas situações Deus não abandona os que n’Ele confiam e a Ele se entregam: “Tende presente em vossos corações que não deveis preparar a vossa defesa. Eu vos darei língua e sabedoria a que nenhum dos vossos adversários poderá resistir ou contradizer. (…) nenhum cabelo da vossa cabeça se perderá. Pela vossa perseverança salvareis as vossas almas”.
Escutar isto da boca de Jesus leva-me a encontrar a paz e a serenidade dos que vivem a fé com sacrifício. Ser salvo por Cristo, como dom do Pai na acção do Espírito, não é simplesmente esperar que aconteça – já o referimos – é outro sim esperar actuando de acordo com a mesma Palavra que Cristo nos dá de que nada acontece por acaso porque o Pai está connosco e não nos abandona. Se o fizesse estaria a abandonar a obra das Suas mãos, a vontade do Seu coração e a força da Sua Palavra: “FAÇA-SE” como nos refere o livro do Génesis concluindo este “faça-se” por dizer que “Deus viu que tudo era bom”.
Que estas minhas simples palavras, escritas sem rascunhos, apenas lendo os textos com os olhos e escrevendo com a fé, possam ser uma outra forma de olhar a Palavra que nos aponta o caminho do bem e do mal desafiando a nossa coragem a trabalhar pelo bem. Só assim poderá acontecer salvação. Só assim Cristo poderá vir reinar com justiça em nós e por nós.
Ah e já agora… esperem porque em breve o blog mudará… para onde?
Pois… vamos ver… dentro de dias já não vereis mais este blog como está agora… atentos e… até breve…



9 comentários:
Frei AMIGO:
OBRIGADA por esta partilha sobre o "Dia do Senhor".
Não é preciso ser biblista para fazer grandes reflexões. Por vezes, esses fazem-nas demasiado teológicas que não entram no coração dos simples. È preciso, é ter o coração aberto à escuta e presença actuante do Espírito, que ilumina e conduz.
Isso é DOM de quem sabe ESCUTAR...! O SENHOR FALA...
Saciei a minha Fome da Palavra de Deus neste domingo especial, "Dia do Senhor".
Esta partilha tem muito para reflectir... fazer da nossa vida, tanta, tanta coisa. A Messe é grande e os trabalhadores são poucos...! Voltarei a reflectir e partilhar algo mais.
OBRIGAGA...!
De facto, é preciso ter entendimento e união com o Amado pra entender sem medo a "brabeza" das leituras de hoje! Durante a Missa , enquanto ouvia a homilia do jovem celebrante, piedoso e sábio, eu pedia a Deus no meu calado que abrisse meu entendimento e agora, ao final da noite Ele me agracia com a sua palavra, no blog. Tenho medo de não poder me alimentar por trabalhar pouco... tenho medo de ruir nesse desabar das pedras, principalmente porque muitas vezes creio que sou parte dos justos, não dos devedores...
Obrigada! Meditei sim... acalmou-me o coração sua palavra, pois agora entendo que a Fornalha Ardente é de Amor e não de Brabeza...
Sirlene
Frei Amigo, PAZ E BEM
Estou olhando os seus escritos aqui ao lado, dizendo:"Que estas minhas simples palavras, escritas sem rascunhos,..." e só me ocorre dizer uma frase que ouvi uma vez e não sei quem é o autor:" Na verdade a boca fala daquilo que o coração está cheio...".
peço ao BOM DEUS que nos dê perseverança, para não ficarmos a meio do caminho, devido às contrariedades da vida e nos faça capazes de estabelecer prioridades, orientadas pelos critérios do Amor, para nos entregarmos com afinco sempre renovado no serviço da Messe do Senhor.
Que o Senhor o Fortaleça, lhe conceda a Paz e a Perseverança no Caminho ao qual entregou toda a sua vida. Estamos consigo.
Seja por Caridade
Caríssimo Frei: Hoje, dia 19, não agradeço a Deus qualquer retalho sobre o que está neste blog. Hoje quero estar em união com todos para partilhar a alegria de poder lembrar junto da MÃE, e com Ela junto de Deus e de toda a "Familia Franciscana" o DOM DIVINO que aceitou receber ao aderir à Grande Família de Francisco, até à Eternidade.
O coração diz-me que nós, os cristãos, e dum modo especial os que aqui nos encontramos em partilha, devemos unir-nos em Oração de Agradecimento. É o apelo que deixo a todos: Na Igreja ou fora dela, num qualquer lugar mas no recanto do coração, durante todos os dias desta semana dos Seminários, coloquemos esta Testemunha Amiga à Proteccção da Rainha da Ordem Francisca e no coração de Clara e Francisco, suplicando, de forma muito sincera, que o abençoe com o DOM DA FORTALEZA, enquanto semeia, entre nós, as Graças que Eles lhe concedem.
" À Vossa Protecção nos acolhemos, Santa Mãe de Deus..."
PAZ E BEM!
Graças Irmão, pelo DOM que és!..., por esta reflexão/partilha simples e tão rica como sempre para todos nós, sobre o “Dia do Senhor…”
Na realidade, só quem vive em união com o “AMADO” que nos ama, fala com esta profundidade e clareza da SUA PALAVRA e do DOM do PAI…
Mais uma vez obrigada pela mensagem de Alegria e de esperança, porque na verdade só o Pai e mais ninguém conhece o dia e a hora em que o Reino de Deus se realizará plenamente…
Dina
Depois de algum tempo sem Internet, cá estou de novo.
Primeiro: Parabéns ainda pelo 1º ano do blog! Parabéns e obrigada pela perseverança, tantas vezes posta à prova ao longo deste ano...; pela (quase) teimosia em não desistir, apesar das muitas dificuldades numa dada altura...; pela profundidade das postagens e a partilha de vida tão rica dos comentários...; pelo espaço de paz e serenidade que encontro cada vez que aqui venho...; pelo pedacinho de «lar» que aqui sinto para matar um pouco as minhas saudades, já que geograficamente estou longe... - Poderia continuar sem fim esta «ladainha» de tantas coisas boas que tenho a dizer do blog...
Depois: Obrigada pela partilha da Palavra deste Domingo. É uma Palavra que, à primeira vista, nos pode desconcertar um pouco... Ainda bem que nos ajuda a olhar mais ao fundo e a encontrar o essencial: o AMOR de Deus que nos chamou à vida com o Seu «faça-se» criador e que nos redimiu pelo Seu Filho Jesus, tornando-nos pedras vivas da Sua Igreja.
Tocou-me especialmente o pensamento de S. Paulo de o imitarmos... É a nossa tarefa como cristãos vivermos de tal modo que os outros, ao olhar para nós, possam aproximar-se de Deus. E quão longe estamos disso tantas vezes – falo por mim própria... Ainda outro dia, alguém me disse: “Tem sido para mim uma referência”... - Ao que eu me assustei profundamente pensando na minha responsabilidade... Mas é o que S. Paulo nos quer dizer nas suas cartas: “Sede meus imitadores como eu o sou de Cristo”.
E, finalmente, já estou na expectativa do blog renovado...
Obrigada, Frei, pelo seu empenho por este espaço que se tornou verdadeiramente um pedacinho de céu! E – não desista NUNCA!
Não posso nem quero deixar acabar este dia, sem louvar Francisco... pela entrega dos irmãos que inspirou e cativou e pelo meu proprio "sim" dado há um ano... É dificil estar, é dificil continuar, mas a "esperança firme" e a FÉ verdadeira" ajuda-nos a todos a ir sempre mais além, dando passinhos no caminho da PAZ e do BEM.
Rezo por toda a Família Franciscana, para que todos os seus elementos sejam sempre alegres, fraternos, confiantes e humildes.
Já inquieta e confusa, deparei-me com estes textos no passado Domingo… Buscava mais uma vez o Deus de Bondade, de Consolação, a Sua mensagem para mim nos sinais que me vai pondo no caminho, sem a poder encontrar, e “paralisei” logo no primeiro texto! “Que Deus Amor é este?”, a lengalenga que me ficou a partir desse momento… pouco mais tive capacidade de ouvir, o Salmo, S. Paulo, o Evangelho, a homilia, tudo parecia reforçar a mesma ideia: a primeira imagem que tive de Deus, um Deus de castigo, controle, permanente vigilância, foi esse Deus que conheci na infância, na catequese e na vida diária, e que apenas pude destruir já adulta, estava de novo presente na minha vida. Não foi um dia fácil de viver…
Ontem, já noite dentro, passei por aqui, como tantas vezes, em busca de alguma paz, de alguma fonte de inspiração para preparar o meu encontro diário com Ele, que previa viria a ser atribulado como nestes últimos tempos… e aqui vim encontrar tudo virado do avesso! Abençoado SMS, e quem o enviou! E muito grata a si, Frei, que lhe deu resposta. A penumbra aclarou um pouco, a angústia diminuiu, o meu encontro com Ele foi muito mais pacífico…
Amigo,
O template novo não funcionou?
Entrei ansiosa por ver tudo novo e lindo!
Mande um e-mail para que possamos resolver o problema e alterar o visual do seu blog!
Vamos fazer isso hoje!
Mais tarde estarei conectada, por volta das 17:00 aqui no Brasil!
Um abraço e até mais tarde,
Áurea
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