Caríssimo Fr. Albertino.
Este é o meu pobrinho contributo para o nosso Blog, que tiveste a amabilidade de me sugerir. É saído dos intervalinhos do atendimento ao Santuário, onde me sinto feliz, embrulhado numa verdadeira multidão de amores de Santo António. Saudações aos nossos queridos bloguistas.
Santo António de Lisboa – Santo António do Mundo!
Lisboa veste-se de vida e festa.
Convida os transeuntes a celebrarem, em particular no dia 13 de Junho, a Festa de seu mais ilustre Filho e Padroeiro, Santo António.
Dando crédito, – nem temos razão em contrário – às legendas de origem portuguesa (Legenda dos Mártires Franciscanos de Marrocos), do século XIII, às de origem francesa (Liber miraculorum), e à paduana (Legenda Raymundina), de fins do século XIII, e ainda uma a tradição muito tardia, não confirmada, o nosso Santo nasceu na casa de seus pais, a poucos metros da Sé Patriarcal de Lisboa, a 15 de Agosto de 1195.
Dessa casa restam apenas uns escassos metros quadrados de superfície, situados por debaixo do altar-mor da actual Igreja-Santuário de Santo António de Lisboa, a que chamamos Cripta.
Os seus pais foram de estirpe de “nobres e poderosos”. O pai, Martinho Afonso, era cavaleiro. A Mãe, de nome Maria, era também de descendência nobre. Consta que teve uma irmã, também chamada Maria.No Baptismo, celebrado na Sé de Lisboa, recebeu o nome do seu tio-avô, cónego na Sé de Lisboa, chamado Fernando. Fernando de Bulhões é, pois, o nome que mantém até entrar na Ordem de S. Francisco. Como era norma naqueles tempos, a pessoa que se entregava a Deus numa Ordem Religiosa deixava o seu nome antigo e recebia um nome novo.
A Fernando foi dado o nome de António, o nome em que o mundo o vem a conhecer, amar e venerar profundamente. António é de Lisboa, de Pádua, de Brive, de Toulouse… De todo o mundo, como disse o Papa Leão XIII. Não precisou de visto para entrar em nenhum dos países do mundo dos viventes. O mundo é o seu País. Hoje, em qualquer Povo, de qualquer mundo, há sempre um cantinho para uma imagem do nosso Santo. E aí Ele recebe e abençoa os seus devotos.
O Santo do Povo.
É extraordinária, para não dizer um verdadeiro prodígio, a devoção universal do Povo a Santo António.
Em Lisboa, claro, é excepcional. As varandas, o interior das casas, os nichos, o peito dos devotos exibindo a sua medalha… Para tudo: Santo António!
Esta devoção assume formas extraordinárias, que até nos fazem pensar numa mistura de crendice, lenda, ingenuidade e verdadeira fé, rodeando a figura extraordinária do Homem e do Santo, que foi erudito pregador de Pádua, Arca das Escrituras (sabia de cor a Bíblia, sobretudo o Novo Testamento), Professor de Teologia em Bolonha e companheiro de São Francisco de Assis, proclamado “Doutor Evangélico” pelo Papa Pio XII, denominado “Martelo de hereges” e tantos outros atributos.
Mas esses títulos não Lhe interessarem. Prefere ser o santo do povo.
Já dele escrevia o P. António Vieira:
“se nos adoece o filho, Santo António;
se nos foge o escravo, Santo António;
se mandais as encomendas, Santo António;
se esperais o retorno, Santo António;
se aguardais a sentença, se perdeis a menor miudeza da vossa casa, Santo António;
e talvez, se quereis os bens da alheia: Santo António!”
Diz a memória popular que Santo António fez florir um cravo dum manjerico. O cravo confundiu-se com açucena, cravinho, vermelho ou branco, e tudo serve para negócio de amores: No altar de Santo António
há um vaso de açucenas,
Onde vão os namorados
Dar alívio às suas penas…
O Povo ama o que é simples. Na igreja ou em casa, ganhou valor quase mágico o Responso a Santo António, composto por S. Boaventura, para que, rezando-o com fé, as coisas perdidas se reencontrem:
Se milagres desejais, recorrei a Santo António,
Vereis fugir o demónio e as tentações infernais.
Recupera-se o perdido, rompe-se a dura prisão,
E no auge do furacão, cede o mar embravecido.
Sabemos que Santo António é muito mais do que uma expressão e recurso popular. Ele é um verdadeiro embaixador da Palavra de Deus, pregada e vivida, homem de oração, de contemplação profunda, um génio de eloquência, um homem de relação com Deus, com os homens e o mundo. A sua lembrança é consolo dos aflitos, cura das dores do corpo e da alma, alegria e paz para a vida.
No local onde nasceu, agora Igreja-Santuário de Santo António, o povo simples, vindo de todos os cantos de Lisboa, de Portugal e do mundo, continua a passar e parar diante da sua imagem, como que a vê-lo, ouvi-lo e senti-lo bem fundo na sua vida.
Levam o “pãozinho de Santo António”, os cravos, as estampas… todos abençoados por Deus, pelas mãos dos seus irmãos sacerdotes que aqui servem.
E a festa do dia 13 será, como há muitas décadas, marcada pela multidão dos seus devotos em festa familiar em honra de seu amigo e protector, Santo António. Mesmo, sem deixar a componente diplomática, onde a Câmara Municipal de Lisboa marca forte em empenhada presença, a prestar homenagem ao Santo da Sua Cidade.
À honra de Cristo. Ámen!
Frei Armindo Carvalho O.F.M. (Reitor da Igreja/Casa de Santo António em Lisboa)