Antes de escrever algo sobre este dia de Cristo Rei e Senhor do Universo, fui ver o que havia escrito há um ano atrás. Fiz reflexão dos textos deste ano e como são belos.Cristo, este Rei e Senhor de toda a História, é-nos apresentado como um Pastor cuidadoso pelo seu rebanho mas que ao mesmo tempo exige o cumprimento de um único mandamento, o do AMOR para com o próximo.
Onde está afinal a realeza esperada pelo Povo Hebreu? Onde está o Rei que viria a salvar Israel, onde encontrar afinal a esperança da vitória prometida por Deus contra o mal e o malígno?
A primeira leitura (Ez 34,11-12.15-17), preconiza esta realeza e, por seu intermédio, Deus revela-se próximo: “Eu próprio irei em busca das minhas ovelhas e hei-de encontrá-las. Como o pastor vigia o seu rebanho, (sobretudo as) que andavam tresmalhadas”.
Como entender humanamente que Deus haja prometido a Realeza que salva e faz justiça aos perseguidos, pobres e marginalizados, aos que se perderam pela vida? Só mesmo um reinado de armas e cavaleiros, de anjos de espada na mão, de um Rei que viria sobre os céus para resgatar os bons e aniquilar os maus. Mas... afinal que diz Deus? Ele mesmo vem ao encontro de todos, bons e maus, para os salvar? Como pode isto ser sinal de salvação e justiça, pensariamos nós se estivessemos nesse tempo da espera.
Mas é um facto que Deus promete vir Ele mesmo e não como um Rei guerreiro, descendo num cavalo branco com um exercito celeste ao Seu serviço. Ele virá como um Pastor e cuidará de todas as ovelhas: “Eu as levarei a repousar, (...). Hei-de procurar a que anda tresmalhada. Tratarei a que estiver ferida, darei vigor à que andar enfraquecida (...) velarei pela gorda e vigorosa. (...) com justiça.
Mais uma vez podemos dizer que não é fácil entender a justiça de Deus que não exclui ninguém da hipótese da Salvação. Ser justo é dar a cada um o que lhe é devido pelos seus actos, é fazer pagar o que é de direito, é repor o que foi rompido. Talvez seja aqui que Deus nos quer fazer chegar, repor a relação amorosa d’Ele connosco e, por isso mesmo, a justiça de Deus seja tão diferente da nossa: “Hei-de fazer justiça entre ovelhas e ovelhas, entre carneiros e cabritos”.
Curiosa esta expressão. Deus fará justiça entre “ovelhas e ovelhas”. Ele ama as Suas ovelhas e não quer que nenhuma se perca. Ama e quer reconduzir a todas de novo ao Seu redil. Isto faz-me lembrar aquela parábola dos trabalhadores da vinha a quem o Senhor paga de igual forma porque lhe é lícito fazer o que bem entender com o que é Seu, desde que não prejudique o contrato estabelecido com nenhum deles.
Todas as Suas ovelhas verão a justiça e, nesta expressão, vejo Deus como o Rei bondoso e amoroso que abre os braços a todos, bons e maus, desde que se arrependam e queiram voltar à casa Paterna.
Mas logo em seguida refere também que fará justiça “entre carneiros e cabritos”. Já não são ovelhas. Há aqui uma conotação menos luminosa, menos bela, menos amorosa. O carneiro e o cabrito talvez sejam todos os que não querem acatar o amor do Pai/Pastor, que fogem por espinheiros, escarpas perigosas, que não ouvem a voz do Pastor. Deus fará ustiça dando a cada um o que lhe é devido e aqui, talvez seja mesmo a escuridão pela ausência da Sua presença salvífica, o afastamento da vida eterna.
Em Mt 25,31-46, o Evangelista apresenta o como fará Deus esta justiça: “Quando o Filho do homem vier na sua glória com todos os seus Anjos, sentar-Se-á no seu trono glorioso”.
Cristo é a presença amorosa do Pai, é o Pastor prometido que viria salvar, é Aquele que dará a vida para que nenhum se perca dos que o Pai lhe deu.
O Rei prometido e esperado ao longo de muito séculos dirá aquando da Sua realeza: “Vinde, bem ditos de meu Pai; recebei como herança o reino que vos está preparado desde a criação do mundo”.
Fazer parte deste Reino preparado desde sempre implica apenas sentir a urgência do amor e da ajuda para com todos os que nos rodeiam, sobretudo os mais desfavorecidos da nossa sociedade. Tanto se ouve agora falar de crise à escala mundial, países como Portugal, Brasil e tantos outros vêm cada dia crescer mais o fosso entre ricos e pobres. Já se fala como nunca do facto de estar a desaparecer a chamada classe média das nossas sociedades. E Cristo, o nosso Rei e Senhor, Aquele de quem recebemos a herança de amar e praticar o bem e a justiça, continua a apelar à nossa consciência para as nossas atitudes concretas face aos que mais precisam. Matar a fome e a sede, vestir os nús ou visitar os enfermos e os encarcerados, acolher o peregrino são a exigência do reino de Cristo. Fazer o bem aos outros é fazê-lo ao próprio Cristo: “Em verdade vos digo: Quantas vezes o fizestes a um dos meus irmãos mais pequeninos, a Mim o fizestes”, (... e) quantas vezes o deixastes de fazer a um dos meus irmãos mais pequeninos, também a Mim o deixastes de fazer”.
Curiosamente a justiça de Deus que conduz à Salvação prometida outrora pela boca dos Profetas resume-se em fazer o bem, em amar, em acolher. Não cumprir estes requisitos é afastar-se dos braços de Deus que vem ao nosso encontro para no reconduzir a Sua casa, ao redil de onde nos afastamos tantas vezes. Creio que não é o Pai que nos enviará para o fogo eterno, não é o Rei e Senhor Jesus que nos atirará para a escuridão da morte, seremos nós ao não acolhermos o amor do Pai que, apesar dos nossos muitos pecados, nos quer resgatar dessa escuridão. Se assim não fosse teria sido em vão a vinda de Cristo à Humanidade e mais ainda a Sua morte por nós.
Isto no-lo recorda de forma tão clara o Apóstolo Paulo: (na segumda leitura -1 Cor 15,20-26.28) “Cristo ressuscitou dos mortos, como primícias dos que morreram. (...) Do mesmo modo que em Adão todos morreram, assim também em Cristo serão todos restituídos à vida”.
Se dúvidas tivessemos face ao cumprimento da promessa de Deus, Paulo arrasa-as por completo. O Homem (Adão) pecou, estabelecendo a morte e a dor, desligando o seu coração do coração amoroso de Deus. E nós, todos nós, estamos nesta estrada humana de Adão, pecamos e deixamos de sentir interiormente a Luz de Deus. Não que ela se tenha apagado em nós, creio que jamais Deus o faria uma vez que nos ungiu com o óleo da vida e da alegria, mas porque a nosso consciência de pacedo obscura essa luz. A nós como a Adão Deus pergunta “e quem te disse que estavas nú?”. A nudez de Adão estava dentro de si mesmo pela falta de conseguir ver a Luz que Deus lhe havia concedido. Isso acontece também connosco que tantas vezes nos sentimos tristes e sem saber porquê. Mas a Vida está aí ao nosso alcance, bem dentro de nós onde Deus nos quer reencontrar e trazer para o Reino de Seu amado Filho, Senhor nosso e Rei. A ressurreição é a justiça prometida onde viverá “primeiro, Cristo, como primícias; a seguir, os que pertencem a Cristo”.
A missão de Cristo, nas palavras de Paulo terminará “quando Cristo entregar o reino a Deus seu Pai. (... quando tenha posto todos os inimigos debaixo dos seus pés”.
A dor e morte estabelecida com o pecado de Adão será também ela aniquilada com a vitória e o Reino de Jesus “porque Deus «tudo submeteu debaixo dos seus pés».”
Neste dia quero pedir a Cristo Rei e Senhor que venha reinar sobre todos nós como Pastor que nos chama não para condenar mas para nos curar as feridas, nos tomar ao colo e nos reconduzir ao Reino de Seu Pai e nosso Pai, Reino que nos está prometido desde sempre.
CRISTO REI E SENHOR DO UNIVERSO, REINA SOBRE NÓS!
Bom Domingo!



6 comentários:
Obrigado pela partilha da Palavra!
Obrigado por seres como o Bom Pastor - faço referência à tua própria palavra no vídeo - que procura dar o melhor alimento às suas ovelhas, que escuta a voz do Pai para a transmitir aos seus, que dá orientação segura aos que lhe são confiados, para que não se percam do bom caminho, do caminho que conduz a Cristo Rei e Supremo Pastor e ao Pai.
Abraço amigo!
OBRIGADA AMIGO; pela bonita partilha deste domingo último do tempo comum, Festa de CRISTO REI!
ELE diz-nos:O tempo está próximo.!
O reino de Deus é para quem faz a sua vontade.
"Porque tive fome e me deste de comer; tive sede e me deste de beber..." (Mateus 25, 35)
Todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes. Porque nem todo aquele que diz senhor, senhor, entrará no reino dos céus, mas sim aquele que faz a vontade de meu pai que está nos céus.
O Senhor tem misericórdia, porque o povo de Israel, somos nós, as ovelhas dele! Mas ninguém cuida delas. Elas são vítimas daquelas pessoas que são como os leões e os lobos. Por isso o Senhor nos ajuda, E Ezequiel mostras-nos isso. O Senhor mesmo vai guardar as ovelhas. Primeiramente, ele as congregará e depois ele procurará um bom lugar para elas; ele irá à procura das perdidas e tornará a trazer as desgarradas; curará as que estão feridas, e fortalecerá as que estão doentes.
DEUS LHE PAGUE AMIGO pela sua partilha tão rica e tão bela deste Domingo, grande festa de ”Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo”.
Um Rei que é juiz e Pastor. Jesus é Senhor de «um Reino eterno e universal, reino de verdade e de vida, reino de santidade e de graça, reino de justiça, de Amor e de Paz». Verdade, vida, justiça, Amor e Paz: estas as marcas características do Reino de Cristo…
Ele é um Rei solidário com todos com todos os necessitados: famintos, sedentos, sem tecto, perseguidos… o que fizestes, o que não fizestes « a um dos meus irmãos mais pequeninos, a Mim o fizestes» (ou « não fizestes»). Cá está Ele como advogado supremo da justiça, da misericórdia, da solidariedade, da responsabilidade dos homens uns pelos outros. Isto vale para todos, sem distinção de crenças, de raça, cultura, camada social… Advogado dos direitos humanos, do direito de todos à Vida, a ser ajudado, ao amor. É assim que é, que quer ser rei. Será o bem a triunfar, no fim. Triunfará a justiça, a misericórdia, o Amor. Nenhum bem praticado será ignorado ou esquecido…
Ganhamos força e coragem para perseverar no bem, confiança para nos responsabilizarmos na vivência do Amor activo. Servir o nosso Rei faz-se na dedicação ao próximo que precisa de nós.
Sempre que nos comprometemos com a verdade, a justiça, a solidariedade e o amor – seguindo o seu chamamento e tomando-O por modelo – declaramo-nos por ELE, que, por sua vez, se declarará por nós junto do Pai que está nos Céus.
Sigamos nós os passos do Bom Pastor…
Amigo isto é um verdadeiro "tratado"; parabéns por partilha tão rica.
De todas as ovelhas, o Senhor, Pastor e Rei cuidará, assim eu acredite na Misericórdia do nosso Rei e não ofereça resistência ao Amor de Deus para comigo.
E como cantava a minha avó:
"Cristo Vençe, Cristo Reina, Cristo Cristo Impera..."
Bem Haja Amigo e que Cristo Rei o recompense.
Pensando na "Realeza que salva e faz justiça", veio a minha mente, acompanhando o seu raciocínio, um entendimento desanuviado, claro, nítido da interpretação desta visão humana de tão profundo mistério. O Senhor do Universo virá, veio e vem ao mundo, como o sol que a todos contempla com suas benesses, mesmo que na sombra se encontrem as criaturas! A graça que diariamente nos é dada, sem que sequer tomemos conhecimento da intensidade ou identidade, qualidade ou o porque, não altera para Ele, Senhor, sequer que a criatura seja ou não grata. Em escala infimamente menor podemos comparar esta relaçâo à "administração" fisico-psico-socio-econonômico-espiritual e educacional de uma organização familiar. Ou seja, a cada aspecto que esteja presente num membro familiar, está envolvida toda a organização da família. Então, a Salvação e a Justiça do Rei abrange igualmente a todos. Observemos a atual crise econômica que nos afeta a todos. Não é nítida a justiça e salavação? Será que O Rei precisa descer num cavalo branco e se sentar num trono para que enxerguemos sua presença? O apelo econômico serve de recurso para que todo o clamor social, educacional, psicológico, espiritual e quantos etc quisermos incluir... feito pela realeza está aí para que todos os bons entendedores captem a mensagem!Ovelhas e ovelhas... cabritos e carneiros... entendo que lá dos Céus possam nos estar a perguntar: Vocês entendem ou preciso desenhar?...
Que Cristo Rei nos dê a paz e a sabedoria para que sejamos úteis e sábios para ajudarmos uns aos outros !
Sirlene
Família Retalhos,
Cristo é Rei, ano após ano o Glorificamos!
Mas se é Rei como se convive com tanta desgraça neste Mundo (fome, Sede, isolamento...) tanta coisa que temos que aceitar MESMO! - Esta era uma grande prova que Ele não conseguia vencer... (meu juizo, BEM agnóstico de século passado)!
Pois é, cá na Terra devemos viver com estas diferenças... e tentar MINORA-LAS ...
O Seu Reino é DIVINO! Hoje em dia, tal como dantes, PROCURO ajudar quantos POSSO: no fundo não nos esqueçamos que possuímos LIVRE ARBÍTRIO...
"...É Dele o Reino dos Céus" rezamos nós cá em baixo (Terra). E TODOS nós havemos de "Subir" um dia, não sabemos a hora, mas isso há-de acontecer, EU CREIO!
Claro enquanto na Terra converso com Ele amiúde... a sabe TÃO bem!!!!!!!!!!
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