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29 setembro 2008

PARABÉNS LUISINHO

(Foto do Luisinho, publicada com a devida autorização dos pais)


A dignidade da Vida e da pessoa humana tem sido, nos últimos tempos – a meu ver – tão mal falada e debatida na comunicação social, no passeio das ruas e no café. Tem sido tão mal discutida na nossa Assembleia da República onde assuntos como “aborto”, “eutanásia”, “divórcios facéis”, como se a vida e os Direitos da pessoa humana fossem uma máquina ou um computador que está na moda porque – estes referidos temas – foram apanágio de campanhas políticas.
Dão-se apoios a interrupções voluntárias da gravidez sem pensar na Vida gerada, sem criar condições de assistência às mães e filhos em sofrimento, sem criar postos de trabalho para quem quer levar um vida digna para poder manter vivo o laço familiar que ainda une, felizmente, muitas das nossas famílias.
Hoje na minha família nasceu mais um bebé, o Luisinho. Sim, é verdade, estou feliz, ou melhor, duplamente feliz.
Enquanto muitas mães matam os seus filhos ainda no seu ventre, estes meus sobrinhos Luís e Virgínia lutaram anos a fio para terem a alegria de ser pais biológicos, mesmo sendo já pais “adoptivos” de uma linda menina com quem têm todo o amor e cuidado na educação humana e cristã que qualquer criança desejaria ter.
Mas... o sonho de ser pai e mãe biológico nunca os fez desanimar e, mesmo no meio de tantas dificuldades onde um Estado deveria olhar e ajudar mais estas famílias - quantas neste momento lutam pelo mesmo e sem apoio nem sequer para uma consulta – os meus sobrinhos são já pais biológicos.
Duplamente feliz me encontro pela coragem que tiveram e que hoje viram coroada com o novo ser que deram à luz, e por ter agora mais um sobrinho neto para juntar às duas lindas sobrinhas netas que já tenho.
É a VIDA que se gera e que perpectua a grandeza do que somos, seres criador por Amor e para o Amor.
Aos meus sobrinhos e papás felizes o meu abraço muito afectuso e a certeza de que Deus por meu/nosso intermédio continuará a ajudar. Parabéns a mana adoptiva que está feliz por ter um mano bebé.
Parabéns ao Luisinho que hoje nasceu depois de uma gravidez com alguns cuidados e de um parto que também era de risco.
Um beijinho grande para ti meu querido sobrinho neto e que um dia possas ser tu a ler neste espaço a alegria com que o teu tio avô escreveu estas palavras.

Celebra a Igreja neste dia a Festa dos Arcanjos S. Miguel, S. Gabriel e S. Rafael.
A Eles te consagro neste dia para que sejam os teus anjos da guarda em cada momento do teu viver.
Obrigado aos amigos que rezaram para que tudo corresse bem. Deus vos recompense.


Termino, agora que recebi as fotos do Luisinho, por partilhar a mensagem do papá feliz: "Foi hoje, dia 29/09/08 que recebi este grande presente de Deus. Das mais de 50 fotos que tirei neste dia glorioso mando-vos esta porque é a que mais significado tem para mim e a mais bela porque se vê alguem que sofreu para realizar este sonho, a mulher mais maravilhosa, para quem o luisito esta a olhar (a sua mãe). Obrigado Virginia."

O pai Luis.

24 setembro 2008

Oração pela Índia (AIS)


Jornada de Oração
pelos cristãos da Índia

A Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), que se dedica especialmente a ajudar os cristãos que vivem em situações difíceis de perseguição e pobreza, lança um apelo a toda a Igreja para que reze pelos cristãos da Índia.
O Pe. Joaquín Alliende, Assistente Eclesiástico Internacional e Presidente da AIS, explicou que, devido ao contacto directo que esta instituição mantém com os bispos locais, tem informação «de quanto alarme e medo estremecem o coração dos nossos irmãos».Os cristãos na Índia, afirma o Pe. Alliende, «são tratados como cidadãos de segunda categoria. Eles sentem-se desprotegidos. Os sacerdotes, para não comprometer as famílias cristãs, tiveram de se refugiar nos bosques».«A nossa oração por eles é urgente. Para evitar mais mortos, mais incêndios de igrejas, profanações de lugares santos e destruição de centros de atenção aos mais necessitados, convido todos a orarem pelos cristãos da Índia nesta hora de perigo.»
A AIS organiza uma jornada de oração no dia 24 de Setembro, festividade de Nossa Senhora das Mercês.
Junte-se a esta corrente de oração, dedicando uns minutos do seu dia a todos cristãos perseguidos na Índia.
O presidente da AIS escreveu esta oração para rezar pelos cristãos perseguidos na Índia:


Pai do céu, fazeis brilhar vosso sol

sobre maus e bons.

Vosso filho Jesus morreu por todo

se em sua ressurreição gloriosa

conservou as cinco chagas do tormento.

Com seu poder divino, ele sustenta agora

todos os que sofrem perseguição e martírio

por serem fiéis à fé da Igreja.

Pai misericordioso e forte,

impedi que hoje Caim volte a matar

o desvalido Abel, o inocente Abel.

Que os cristãos perseguidos na Índia,

como Maria Mãe, permaneçam

de pé junto à cruz do Cristo Mártir.

Confortai quem é ameaçado pela violência

e estremecido pela insegurança.

Que vosso Espírito Santo de amor

torne fecundo o testemunho e o sangue.
Amen


22 setembro 2008

Perfeita Alegria (S. Francisco)

Certo dia, estando o bem-aventurado Francisco em Santa Maria, chamou o irmão Leão e disse-lhe:
– Irmão Leão, escreve
Este respondeu-lhe:
– Estou preparado,
– Escreve – disse-lhe – em que consiste a verdadeira alegria.
Supõe que chega um mensageiro com a notícia de que todos os mestres de Paris entram na Ordem. Escreve: “Não é essa a verdadeira alegria”.
E que, além disso, deram também entrada na Ordem todos os prelados ultramontanos, arcebispos e bispos, e ainda os reis de França e da Inglaterra. Escreve. “Não está nisso a verdadeira alegria”.
E que igualmente os meus irmãos partiram para entre os infiéis e os converteram todos à fé. E, além disso, que eu próprio recebi muitos milagres. Pois digo-te que ainda em nada disto está a verdadeira alegria.
Qual é, então, a verdadeira alegria?

Supõe que eu, ao voltar da Perúsia, chegava aqui altas horas da noite. É Inverno. Está tudo enlameado e o frio é tanto que da orla da túnica pendem sincelos que abrem feridas nas pernas e as fustigam até as fazer sangrar.
E, coberto de lama, gelado, a tiritar de frio, chego à porta. Depois de estar bastante tempo a tocar e a chamar, aparece o irmão e pergunta:
– Quem é?
Eu respondo: – Sou o irmão Francisco.
E ele replica:
– Fora daqui. Isto não são horas decentes de se andar pelos caminhos. Aqui é que tu não entras.
E, perante nova insistência da minha parte, responde:
– Fora daqui. Tu não passas de um simplório, um labrego. Connosco é que não ficas. Já cá temos muita gente e não precisamos de ti para nada.
De novo me aproximo da porta para lhe dizer:
– Por amor de Deus, deixai-me ficar aqui esta noite.
Resposta dele:
– Não estou disposto. Vai ter com os crucíferos e pede-lhes que te recebam.
Se eu levasse tudo isto com paciência e sem ter perdido a calma, digo-te que está nisto a verdadeira alegria e também a verdadeira virtude e o bem da alma.


Editorial Franciscana

17 setembro 2008

Estigmatizado do Monte Alverne

Hoje celebramos o dia em que Cristo, na Sua misericórdia, imprimiu no corpo de Francisco as Suas Santas Chagas. Dois anos antes da sua morte, Francisco, abrasado de amor pelo Crucificado, pede a Cristo que antes de receber a irmã morte lhe conceda experimentar no seu próprio corpo as chagas e dores que Cristo suportara no alto da Cruz.
Deixo a partilha de um confrade e a oração de João Paulo II
"E agora, anuncio-vos uma grande alegria e um milagre extraordinário. Não se ouviu no mundo falar de tal portento, excepto quanto ao Filho de Deus, que é o Cristo Senhor. Algum tempo antes de sua morte, o nosso irmão e pai (Francisco) apareceu crucificado, trazendo gravadas em seu corpo as cinco chagas, que são verdadeiramente os estigmas de Cristo. As suas mãos e os seus pés estavam trespassados, apresentando uma ferida como de prego, em ambos os lados, e havia cicatrizes da cor escura dos pregos. O seu lado parecia trespassado por uma lança e muitas vezes saíam gotas de sangue". (CFI5)
Em 1224, no Monte Alveme, Francisco recebe os estigmas da paixão do Senhor, provavelmente, no dia de São Miguel Arcanjo, 29 de Setembro. A impressão das chagas, em seu corpo, não foi senão a coroação de toda uma vida. Desde o início de sua conversão, ele se deslumbrava ao contemplar o Cristo de São Damião, tão humano, tão despojado, tão pobre e crucificado. Por isso, este Cristo ocupa o lugar central de toda sua vida: "Não quero gloriar-me a não ser na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo" (Gal 6,14). Foi ante este Cristo, que compungido rezou: "Ilumina as trevas de meu coração, concede-me uma fé verdadeira, uma esperança firme e um amor perfeito" (OCD). E continua: "Nele está todo perdão, toda graça e toda glória, de todos os penitentes e justos" (1 R 30).
A cruz, fonte de vida
Assim compreende-se porque na alma deste servo de Deus as chagas já estavam impressas desde o início de seu projecto de vida. Francisco teve a sensibilidade de descobrir a face do Cristo Sofredor nos conflitos sociais, nos leprosos e nos marginalizados. Vê no Cristo Crucificado o servo perfeito, que aceita viver, sofrer e morrer para nos salvar. Francisco passou por momentos de crise, mas não perdeu a chama da esperança e da confiança. Apesar das provações, sentiu-se cativado pelo Cristo. Ele sabia que o caminho para a glória passa pelo sofrimento. A sua opção de vida foi pelo caminho da renúncia, da doação e da cruz. Todavia, assumiu a sua missão até as últimas consequências, porque o caminho da cruz é fonte de vida. Francisco captou o profundo sentido da cruz e, por isso, sentiu-se envolvido pelo amor do Mestre que salva, que liberta e que impulsiona para a Ressurreição.·
Francisco e o Cristo

Francisco vivia fascinado pelo Cristo, que veio para realizar a vontade do Pai e se fez obediente até morte, e morte de cruz. Aqui está a explicação por que Francisco usava o Tau. Este lhe lembrava a cruz, sinal de salvação, símbolo da vitória sobre o mal. Mais, a cruz torna-se símbolo e sinal da bondade e da misericórdia divinas. Francisco ora ao Pai, pedindo provar no seu corpo as dores do Senhor Jesus e sentir tão grande amor pelo Crucificado como Ele sentiu por nós. As chagas em seu corpo não são senão a aprovação divina e a resposta ao seu ardente desejo de sentir em sua carne os sofrimentos do Crucificado. E de fato aconteceu. Francisco, assim, é açoitado cruelmente pelo sofrimento.
A recompensa do Pai

No Cristo crucificado, Francisco encontra toda vitalidade que lhe abrasava o coração, a ponto de transformar-se no Cristo estigmatizado. O Cristo pobre e sofredor, estava em seu projecto de vida. Seria Ele como uma auto-estrada a conduzi-lo, mais e mais, a uma profunda união com Deus, a ponto de, exteriormente, pelas cinco chagas, gravadas em seu corpo, assemelhar-se ao Cristo crucificado. Sabemos, outrossim, que na alma deste santo, as chagas do Senhor já estavam impressas. E como Cristo foi recompensado pelo Pai, ressuscitando-o e vencendo a morte, Francisco, no Monte Alverne, também recompensado por Deus, em seu corpo, pela impressão dos estigmas de seu Filho Jesus Cristo. Isto é fruto de sua vida de fidelidade e de seguimento irrestrito ao Senhor. Esta transformação interior e exterior, identificando-se ao Cristo, fazia-o exclamar: "Pois para mim, o viver é Cristo e o morrer é lucro" (Fil 1,21).
Fazer a vontade de Pai

Em todas as situações, consoladoras ou dolorosas, Francisco procurava fazer a vontade do Pai: "Concede-nos que façamos aquilo que sabemos ser de tua vontade e queiramos aquilo que te agrada. E assim purificados e, interiormente abrasados pelo fogo do Espírito Santo, sermos capazes de seguir os passos de teu Filho Jesus Cristo e chegar a ti, ó Altíssimo" (CO 50-52). Gostaríamos de lembrar que, desde a Porciúncula, igrejinha de Nossa Senhora dos Anjos, berço da Ordem Franciscana, local de início de sua conversão concluída no Monte Alverne, Francisco fez uma caminhada lenta e progressiva, até sua total configuração com o Crucificado.

Frei Atílio Abati ofm, in, “Francisco, um Encanto de Vida", editora Vozes, 2002.





Ó São Francisco, estigmatizado do Monte Alverne,

o mundo tem saudades de ti,

qual imagem de Jesus crucificado.


Tem necessidade do teu coração

aberto para Deus e para o homem,

dos teus pés descalços e feridos, d

as tuas mãos trespassadas e implorantes.


Tem saudades da tua voz fraca,

mas forte pelo poder do Evangelho.

Ajuda, Francisco, os homens de hoje

a reconhecerem o mal do pecado

e a procurarem a sua purificação na penitência.

Ajuda-os a libertarem-se

das próprias estruturas do pecado,

que oprimem a sociedade de hoje.


Reaviva na consciência dos governantes

a urgência da Paz nas Nações e entre os Povos.


Infunde nos jovens o teu vigor de vida,

capaz de contrastar as insídias das múltiplas culturas da morte.

Aos ofendidos por toda espécie de maldade,

comunica, Francisco, a tua alegria de saber perdoar.


A todos os crucificados pelo sofrimento,

pela fome e pela guerra, reabre as portas da esperança.

Ámen.

João Paulo II

13 setembro 2008

Exaltação da Santa Cruz

(Desactivar a música do blog, coluna da esquerda, para ouvir o clip de vídeo)

A Igreja celebra neste próximo domingo a festa de exaltação da Santa Cruz, isto é, uma homenagem à cruz salvadora de Jesus Cristo.
Esta festa é muito antiga e remonta ao ano 335, quando foi inaugurada a igreja construída pelo Imperador Constantino, no alto do Calvário, em Jerusalém, lembrando a morte e a ressurreição do Senhor. Na mesma época foi construída a igreja da Santa Cruz, em Roma, para abrigar as madeiras trazidas pela mãe de Constantino, Santa Helena. Seriam relíquias autênticas da cruz de Jesus. Estas madeiras estão lá até hoje, na Basílica da Santa Cruz, em Roma, para a veneração do povo.
No começo, a festa era celebrada a 13 de dezembro, mas depois que a festa veio para o Ocidente, com o nome de exaltação da santa cruz, o dia passou para 14 de setembro.
(in,
http://www.mitranh.org.br)

Em Portugal a devoção à Santa Cruz, e em todo o mundo também, foi introduzida de forma muito especial pelos Franciscanos, através da Veneração das Chagas de Cristo e do caminho da Via Sacra.
Ainda hoje, pelo mundo e em muitos lugares de Portugal, como a minha Aldeia e a cidade de Barcelos, esta Festa se celebra no dia 3 de Maio.
A explicação desta data pode estar na devoção à Cruz que a partir dos Franciscanos da Terra Santa se estende a todo o mundo, os símbolos da Ordem Terceira de S. Francisco são precisamente as cinco chagas de Cristo. 3 de Maio porque diz a lenda que esta festa se celebrava na Gália neste dia sob o nome de invenção da Sta Cruz. Era a memoria por ocasião da descoberta da Santa Cruz por Santa Helena, mãe do Imperador Constantino, que se terá dado, diz a referida lenda neste mesmo dia no ano 320.
Outra explicação que encontramos é a de que neste mesmo dia Heráclito (talvez não o filósofo - não pude apurar correctamente - terá recuparado a madeira sob a qual teria sido crucificado Cristo e que fora levada pelos Persas. Recuperada e reconstituida, esta foi levada por Heráclito, neste dia 3 de Maio, pelo calvário como forma de Veneração a tão alto patíbulo. Esta vitória do Cristianismo sobre o reino Persa terá sido pelo século VII.

12 setembro 2008

Santíssimo Nome de MARIA


DO MISTERIOSÍSSIMO, EFICACÍSSIMO, E DULCÍSSIMO NOME DE MARIA

Foi imposto este nome à Senhora não casualmente ou por arbítrio humano, senão (como dizem os Santos) por disposição divina e instinto do Espírito Santo; e por ventura foi anunciado à S. Ana por algum Anjo, como foi o do Precursor a seu pai Zacarias. Considera, pois, neste nome, as suas significações.

Quanto às significações, tocaremos só em três das mais principais.

A primeira é que Maria, na língua Síria (que era a mais usada naquele tempo em Palestina), quer dizer Senhora.

O que bem quadra este nome à Virgem, pois é Senhora absoluta, soberana e pacífica de todas as criaturas no Céu, na terra e debaixo da terra! Os mais sublimes Serafins, aquelas essências mais puras, que servem de lugares à presença de Deus, iluminam, reconhecem, e adoram a esta Princesa; as nações, os reinos e os impérios dependem do seu aceno e favor, tremem da sua ausência e desvio.

Outro significação do nome MARIA na língua hebraica é Estrela do mar; e com este apelido a invoca a Igreja: Ave Maris Stella. Também lhe vem mui próprio, por estrela, e estrela do mar. Por estrela primeiramente: porque a estrela, sem diminuição sua, nos produz o raio luminoso e a Virgem, permanecendo Virgem, nos gerou Cristo, que é luz do mundo. Além disso, porque as estrelas presidem às trevas da noite; e a Virgem é refúgio de pecadores, em que ainda não reina o Sol da graça.

A terceira significação, e de todas a mais própria e digna, é, conforme diz S. Ambrósio, MARIA, isto é, Deus da minha geração.

Ó imensa glória! Ó altíssima dignidade! Ó ventura imponderável! Senhora, Deus de vossa geração! O que tudo criou ser de ti gerado! O que gerou o Eterno Pai ab æterno, antes de todos os séculos, nos geraste por obra do Espírito Santo, no meio dos séculos! Maravilhosa definição encerram cinco só letras do nome MARIA; idest Deus ex genere meo.


Pe. Manuel Bernardes

08 setembro 2008

Natividade da Virgem Santa Maria

A Natividade de Nossa Senhora é a festa de seu nascimento.

É celebrada desde o início do cristianismo, no Oriente. E no Ocidente, desde o século VII. O profundo significado desta festa é o próprio Filho de Deus, nascido de Maria para ser o nosso Salvador.Em seu Sermão do Nascimento da Mãe de Deus, o Pe. António Vieira diz: "Perguntai aos enfermos para que nasce esta Celestial Menina. Dir-vos-ão que nasce para Senhora da Saúde; perguntai aos pobres, dirão que nasce para Senhora dos Remédios; perguntai aos desamparados, dirão que nasce para Senhora do Amparo; perguntai aos desconsolados, dirão que nasce para Senhora da Consolação; perguntai aos tristes, dirão que nasce para Senhora dos Prazeres; perguntai aos desesperados, dirão que nasce para Senhora da Esperança; os cegos dirão que nasce para Senhora da Luz; os discordes: para Senhora da Paz; os desencaminhados: para Senhora da Guia; os cativos: para Senhora do Livramento; os cercados: para Senhora da Vitória. Dirão os pleiteantes que nasce para Senhora do Bom Despacho; os navegantes: para Senhora da Boa Viagem; os temerosos da sua fortuna: para Senhora do Bom Sucesso; os desconfiados da vida: para Senhora da Boa Morte; os pecadores todos: para Senhora da Graça; e todos os seus devotos: para Senhora da Glória. E se todas estas vozes se unirem em uma só voz (...), dirão que nasce (...) para ser Maria e Mãe de Jesus". (Apud José Leite, S. J., op. cit., Vol. III, p. 33.).


«A vinda do Filho de Deus à terra, foi preparada, pouco a pouco, ao longo dos séculos, através de pessoas e acontecimentos. Entre as pessoas escolhidas por Deus para colaborarem no Seu projecto de salvação, houve uma, à qual foi confiada uma missão única: Maria, chamada a ser a Mãe do Salvador e cumulada, por isso, de todas as graças necessárias ao cumprimento dessa missão. O nascimento de Maria foi, portanto, motivo de esperança para o mundo inteiro: anunciava já o de Jesus. Era a autora da salvação a despontar; «Ela vem ao mundo e com Ela o mundo é renovado. Ela nasce e a Igreja reveste-se da sua beleza». (Liturgia bizantina).


Felicitando a Mãe do Salvador, no dia do Seu aniversário natalício, peçamos a graça de à Sua semelhança, colaborarmos, generosamente, na salvação do mundo.- do Missal Popular Ferial (8 de Setembro)

04 setembro 2008

Varatojo: Existência: Risco e Oferta (S. Paulo)

Coloca-se agora diante do nosso olhar a perpectiva Paulina da nossa existência enquanto risco e oferta. Para tal tomamos por base o texto que se segue:
“Considerai, pois, irmãos, a vossa vocação: humanamente falando, não há entre vós muitos sábios, nem muitos poderosos, nem muitos nobres. Mas o que há de louco no mundo é que Deus escolheu para confundir os sábios; e o que há de fraco no mundo é que Deus escolheu para confundir o que é forte. O que o mundo considera vil e desprezível é que Deus escolheu; escolheu os que nada são, para reduzir a nada aqueles que são alguma coisa. Assim, ninguém se pode vangloriar diante de Deus. É por Ele que vós estais em Cristo Jesus, que se tornou para nós sabedoria que vem de Deus, justiça, santificação e redenção, a fim de que, como diz a Escritura, aquele que se gloria, glorie-se no Senhor.” (1 Cor 1, 26-31)
Paulo é um convertido ao Senhor e, por Ele mesmo, chamado à missão apostólica. Não se trata de um mais como tantos milhares que seguiam Jesus e se baptizavam. Paulo segue Jesus para o matar nos Seus irmãos e Jesus depara-se no caminho de Paulo para lhe dar a vida, uma vida nova. Este encontro trabnsforma o Paulo perseguidor no Paulo zeloso pela causa do Evangelho. Podemos dizer que ele se torna assim no apaóslo da liberdade para a qual Cristo nos redimiu.Trata-se de uma libertação redimida com e para o amor. A liberdade cabe nas medidas do mundo mas não fica aí presa, ultrapassa os horizontes do mundo para chegar à redenção definitiva da pessoa humana em Cristo Jesus.
Por isso mesmo podemos afirmar que, esta liberdade redentora, não é uma liberdade política, social ou económica na medida em que estas nem sempre deixam o homem livre para poder ser feliz e ter esperança e objectivos na sua vida. Trata-se daquela realidade última proclamada pelos profetas, trazida à nós pela redenção de Jesus e que se consumará na eternidade como expressão última do amor de Deus por nós. Esta certeza a tem muito clara o apóstolo Paulo e porque não dizê-lo o próprio Francisco de Assis que permanentemente nos apela a fazer tudo com o olhar e o coração em Deus, chegando Francisco a prometer em nome de Deus a vida eterna a quem cumprir a santíssima vontade do Pai. Neste sentido podemos afirmar que um dos maiores legados que estes dois vultos da história da Igreja nos deixaram foi este seu anúncio Kerigmatico.
Aqui deparamo-nos, no nosso existir, com uma dupla perspectiva: o risco e a oferta.
Poderíamos aqui recorrer a alguns textos dos Actos dos Apóstolos, sobretudo os capítulos 13 a 15 onde este anúncio Kerigmático como risco e oferta está bem patente na missão de Paulo e Barnabé. Ouvindo a sua palavra muitos se convertem e baptizam mas outros instigam os judeus e os pagão a que os tratem mal, apedrejem e expulsem das suas terras. Mesmo assim, correndo risco de vida, Paulo e Barnabé continuam sem cessar a sua missão de levar a Palavra de Cristo a todo o mundo pagão.
Vivem o risco de uma existência apostólica pela causa do Evangelho pondo em perigo as suas próprias vidas porque não se trata apenas de assumir uma tarefa mas sim um compromisso que conduz à Fé em Cristo Jesus. A tarefa/missão leva ao crer/fé que compromete o todo do ser humano.
A credibilidade à mensagem ganha força na tarefa exercida quando anunciamos com a vida. Em Paulo esta é manifestada diante dos judeus e pagãos que lutam contra o Evangelho nos nossos dias manifesta-se nos grupos e teorias modernas que procuram esconder o testemunho dos crentes e o anúncio da presença redentora de Cristo em nós.
Mas é aqui que Paulo continua a exclamar em nós: “se eu anuncio o Evangelho, não é para mim motivo de glória, é antes uma obrigação que me foi imposta: ai de mim, se eu não evangelizar!” (1 Cor 9, 16)
Esta atitude de Paulo traz em si uma espécie de imperativo de consciência da alma, um compromisso credível e vital.
É imperativo anunciar a Cristo que com o Seu poder salvífico vem ao encontro de Paulo no caminho, o chama e envia ao anúncio da Boa-nova.
Cristo é o poder de todos os outros poderes, é eterno e não perecível e falível.
Urge destronizar os poderes do mundo, não destruir mas simplesmente destronizar, através do nosso compromisso kerigmático. Não se trata de substituir nada mas de combater com “dureza” o bom combate da fé. Aqui Paulo continua a dar-nos o testemunho de si mesmo
: “Quanto a mim, já estou pronto para oferecer-me como sacrifício; avizinha-se o tempo da minha libertação. Combati o bom combate, terminei a corrida, permaneci fiel. A partir de agora, já me aguarda a merecida coroa...” (2 Tm 3, 6-7).
Este combate pela fé, e não uma simples luta, tudo leva à obediência a Cristo, não pela inteligência mas pela confiança. Obedecer implica sempre da nossa parte confiar e confiar implica sempre conhecer.
É nesta dialética que a nossa existência se torna um risco na medida em que é uma constante procura do verdadeiro sentido da nossa vida como que num permanente sobressalto:
“Confiai-lhe todas as vossas preocupações, porque Ele tem cuidado de vós. Sede sóbrios e vigiai, pois o vosso adversário, o diabo, como um leão a rugir, anda a rondar-vos, procurando a quem devorar. Resisti-lhe, firmes na fé, sabendo que a vossa comunidade de irmãos, espalhada pelo mundo, suporta os mesmos padecimentos.” (1 Pd 5, 7-9)
Ontem como hoje, Pedro, continua a exortar-nos a esta confiança em Cristo e a estar atentos para que o mundo não destrua o legado da fé que recebemos e que temos a misão vital de anunciar.
O mundo e a nossa sociedade com os seus esquemas e filosofias não se compadece dos que têm fé e a querem anunciar, mas procura de forma mais clara ou mais dissimulada destruir tudo que que é anúncio e testemunho da realidade que Deus é em nós. Por isso mesmo não se avizinham tempos de uma catequização pacífica mas de um bom e são combate pela guarda da fé.
Paulo e Pedro estão presentes no mundo, nas tribulações e nos riscos, mas jamais deixam fugir a ocasião fugitiva, ou seja, não deixam que passe a hora do anúncio. É aqui e agora que somos chamados a ser sinal de Deus no mundo porque amanhã já pode ser tarde, já outros momentos se nos deparam e se não anunciamos no aqui e agora os de hoje perdem a oportunidade da salvação.
Paulo assume a sua existência humana como uma existência em Cristo:
“Estou crucificado com Cristo. Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim. E a vida que agora tenho na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus que me amou e a si mesmo se entregou por mim.” (Gal 2, 19-20)
O existir apostólico reflete não só a morte de Cristo mas também a ressurreição pelo modo como os outros veêm que anunciamos. Isto conforta-nos porque na nossa debilidade pessoal, na nossa mortificação, se manifesta a força de Deus como no-lo continua a referir Paulo:
“De bom grado, portanto, prefiro gloriar-me nas minhas fraquezas, para que habite em mim a força de Cristo. Por isso me comprazo nas fraquezas, nas afrontas, nas necessidades, nas perseguições e nas angústias, por Cristo. Pois quando sou fraco, então é que sou forte.” (2 Cor 129-10)
Na nossa fraqueza Deus chama-nos a sermos seus colaboradores na ordem da graça e não possuidores da mesma graça de Deus em nós, como no-lo recorda Paulo ao dizer que: “Trazemos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que se veja que este extraordinário poder é de Deus e não é nosso. (...) Estando ainda vivos, estamos continuamente expostos à morte por causa de Jesus, para que a vida de Jesus seja manifesta também na nossa carne mortal.” (2 Cor 4, 7-11)
Mais uma vez vemos como o risco da nossa existência se torna oferta na confiança. Arriscar a vida pela causa do Evangelho implica da nossa parte confiar plenamente que Cristo está presente e nos resgata do mal com a Sua ressurreição. Assim, o acto de confiar torna-se um caminho oblativo para todo o cristão.
Se a confiança em Cristo estiver sempre presente em cada um de nós, então o imperativo do anúncio não traz consigo medo ou perturbação. A pedagogia Paulina do testemunho da causa do Evangelho gera-se na certeza de que toda a sua acção é acção que Deus resliza nele através do Espírito Santo. Por isso, quando Paulo visita a Grécia em busca da melhor forma de anunciar a Boa-Nova do reino, toma como referência o altar que encontrou ao deus desconhecido e assim inicia a sua catequese junto dos Atenienses: “Percorrendo a vossa cidade e examinando os vossos monumentos sagrados, até encontrei um altar com esta inscrição: ‘Ao Deus desconhecido.’ Pois bem! Aquele que venerais sem o conhecer é esse que eu vos anuncio.” (Act 17, 23)
Paulo não teme a reacção dos Atenienses, corre o risco de poder ser mal tratado como em outras cidades e povos contudo, pegando em algo que já era uma realidade, a fé num deus desconhecido, Paulo inicia uma nova era na relação desta gente com o Sagrado e leva à Fé no Deus único. Não parte da negação do culto existente, não vai contra os altares que ali encontrára mas aproveita o altar do deus que eles não conhecem para o identificar com o Deus de Jesus Cristo e assim, numa pedagogia da liberdade e da confiança apostólica, levar à adesão a este Deus e à fé revelada em Jesus.

03 setembro 2008

Varatojo: "A arte é longa", resposta livre...

Continua a nossa reflexão com “a arte é longa” para nos reportar ao dado histório da nossa existência e o que fazemos com ela. Hipócrates continua a ser o mote: “a arte é longa”
A vida tem sempre o passado, o presente e o futuro. No dizer de Santo Agostinho, ao passado se associam as nossas fixações, ao presente os nossos apegos e ao futuro as nossas projecções.
Toda a nossa reflexão estará agora à volta deste pensamento e como o devemos olhar na nossa realudade vital e humana.
A ALMA humana deve ter sempre na sua realidade vital três aspectos:
- Memória presente do passado
- Intuição presente do presente
- Expectativa presente do futuro.
Estes três aspectos exigem a cada pessoa uma fidelidade a si mesma e ao mesmo tempo uma consciência de se tornar naquilo que ainda se não é, ou seja, olhar o mundo e o futuro com uma permanente abertura ao novo da sua história humana. Podemos chamar a isto um processo de amadurecimento ou maturação humana.
Como todos os processos pelos quais passamos, este, traz consigo algumas rupturas que podem coarctar e romper com o equilíbrio da nossa maturação. Muitas vezes tornamos-nos vítimas de nós mesmos: vítimas das nossas fixações no passado, vítimas dos nossos apegos no presente e vítimas das nossas projecções futuras.
Vítimas das nossas fixações no passado quando as carregamos no nosso “eu” muitas memórias menos simpáticas como traumas, frustrações, medos, etc...
Neste âmbito quase sempre imputamos ao outro a culpabilidade pela nossa memória negativa do passado, nós dificilmente imputamos a nós mesmos a culpabilidade, ou parte dela, a estas fixações menos boas. À nossa volta encontramos frequentemente o “bode expiatório” ou alguém com “costas largas” sobre quem despejar a culpa de todos os nossos males passados e que permanecem na nossa existência. Desta forma jamais colocaremos a nós mesmos a questão sobre a nossa responsabilização já que foi outro, ou outrém, o causador de tudo. Facilmente referimos que não fomos nós que escolhemos nascer, não fomos nós que escolhemos isto ou aquilo, foram os outros que...
Neste sentido urge integrar a nossa história e a nossa memória dentro do nosso correcto processo de maturação, mesmo que quisessemos apagar de vez, coisas passadas, da nossa memória tal seria impossível porque não somos máquinas ou seres sem sentimentos. Então, o importante não é deixar-nos vitimizar por estas fixações passadas mas integrá-las de forma a que possam desvanecer-se no que de bom tem o presente.
Mas face a este presente corre-se muitas vezes um outro processo de vitimização: a dos apegos do tempo presente.
Esta vitimização dos apegos não é mais do que uma alienação face à história e indiferença face ao futuro: “quero lá saber”, “corra o mar para onde correr”, “Deus dirá o amanhã”...
Esta é a atitude de quem está totalmente apegado ao aqui e agora, apenas ao viver hoje, como forma de garantir quer se esgota tudo o que é possível no momento presente. É o querer viver o que tenho agora como certeza e assegurar o presente esquecendo o passado e não olhar para o futuro. É como que jogar com a vida, curtir simplesmente o momento e nada mais. Se estivermos atentos às nossas crianças e adolescentes, é isto mesmo que começam a viver já que toda a cultura com que se deparam no seu ambiente leva a esta mentalidade, curtir e gastar o momento presente porque amanhã logo se vê.
Aqui podemos por em paralelo a nossa atitude interior face a muitas coisas, ou seja, é bem diferente dizer que já só falta uma semana para começar a trabalhar de ainda tenho uma semana para descansar e recuperar força e vigor físico.
Fugir a este tipo de vitimização implica olhar o futuro com positivismo vivendo o presente com esperança. Ora esta é então uma atitude de confiança à acção do Espírito Santo em nós.
Não nos abrirmos a esta confiança na acção de Deus em nós leva então a uma terceira vitimização: a das projecções futuras.
Aqui perdemos completamente de vista o tempo presente para olhar apenas para o futuro. Esta projecção condiciona o momento presente e toda a nossa história. Perdemos assim o desafio do hoje, do agora face à criação de espectativas que podem sair frustradas e que terão como consequência o desânimo, a tristeza, o cruzar os braços, o não vale a pena lutar por...
Nunca nos sentimos, assim, bem onde estamos, só queremos estar onde não estamos.
No nosso presente, e para fugir a uma tal vitimização, é preciso investir face ao futuro, criara bases sólidas para o desafio que se nos apresentará no amanhã. Colocar o nosso futuro, e por conseguinte a nossa vida, na esperança em Deus é colocarmos o que somos e temos num caminho constante que nos leva a um dia melhor.
Para tal urge uma vigilância crítica do presente que leva à lucidez de integrar o passado e projectar o futuro com a novidade que a liberdade dos filhos de Deus permite. Neste sentido jamais podemos domesticar a nossa história ou corremos o risco de ser vítimas permanentes da mesma.
Voltamos a recordar os trâs aspectos de St. Agostinho acerca da realidade da alma:
- Memória presente do passado
- Intuição presente do presente
- Expectativa presente do futuro.
A unidade entre estes três aspectos impede-me de me entregar somente ao passado e ao mesmo tempo ao futuro sem mais, indefezo. Esta unidade leva a uma maior maturidade de vida e de fé que implica uma identidade da alma espiritual que se abre despojadamente ao projecto de Deus, identidade essa que não é estática mas dinâmica.
Neste sentido eu não sou um mero espectador, receptor passivo de acontecimentos históricos. Sou responsável por dar uma resposta fiel a mim mesmo e por mim mesmo e não pelo que os outros dizem acerca de mim. Como exemplo disso temos a resposta dada pelos Samaritanos à mulher que falara com Jesus: «Já não é pelas tuas palavras que acreditamos; nós próprios ouvimos e sabemos que Ele (Jesus) é verdadeiramente o Salvador do mundo.» (Jo 4, 42)
Temos em nós e na nossa razão crítica uma capacidade criadora, selectiva de valores, projectos e caminhos que levam à liberdade interior, não pelo que os outros dizem de nós mas pelo que nós temos consciência que somos e fazemos.
Este caminho não pode ser estático, pois não seria caminho, é dinâmico na medida em que temos sempre presente esta acção de Deus em nós e por nós. Como dizia Cervantes, “não existe caminho, este faz-se ao caminhar...”.
A nossa vocação não é um segundo elemento da nossa existência, é substancial a ela e acolhemo-la incondicionalmente tal como fizemos com a vida. Não escolhemos nascer, não nos vocacionamos a nós próprios. Nesta perspectiva, a nossa vocação humana, é algo inerente à nossa vida. Criados que fomos, fomos também chamados a um agradecimento incondicional ao Pai, numa perspectiva do passado, e um desafio de fidelidade ao futuro pedido por Deus. É por isso que podemos afimar com Hipócrates que “a arte é longa”.
Prometer fidelidade à proposta de Deus
(fazer um voto) não é garantia dessa mesma fidelidade já que esta só se poderá afirmar após a nossa morte e olhando o nosso passado. O que fica garantido é a promessa de tudo fazer para ser fiel, mas esta é uma realidade permanente e ainda não consumada.
No Matrimónio, como na Vida Religiosa, dá-se o mesmo processo desta realidade. Não basta dizer “eis-me aqui, faça-se”, nas medida em que isto pode parecer uma mera obediência por medo e não uma manisfestação de maturidade humana e de liberdade interior.
Dizer “eis-me” implica sentir a alegria de dar uma resposta concreta à expressão igualmente concreta do que somos enquanto homens e mulheres livres e conscientes da resposta a dar: a minha resposta livre ao Deus que me chama à liberdade. Diz e muito bem o povo que “ um santo triste é um triste santo”. Deus quer-nos livres e felizes para responder com amor e alegria criando assim na nossa vida a arte que perdura quando se sente o gozo e a alegria de viver e construir com Deus o caminho.

02 setembro 2008

Varatojo: "A vida é curta..." - Chronos e do Káiros

Voltando à espressão de Hipócrates “A vida é curta”, reflectimos sobre o tempo enquanto Chronos e Kairos.


O Salmo 90, todos ele mas sobretudo o que abaixo apresento, dão o mote à nossa reflexão:
“Oração de Moisés, o homem de Deus.
Senhor, Tu foste o nosso refúgio de geração em geração.
(...) desde sempre e para sempre Tu és Deus.
Tu podes reduzir o homem ao pó, dizendo apenas: «Voltai ao pó, seres humanos!»
Mil anos, diante de ti, são como o dia de ontem, que passou, ou como uma vigília da noite. (...) Ensina-nos a contar assim os nossos dias, para podermos chegar ao coração da sabedoria. (...) Confirma em nosso favor a obra das nossas mãos; faz prosperar a obra das nossas mãos.” (Sl 90, 3+)

Diante deste texto parece-nos sentir brotar do coração de Moisés não a expressão do seu sentir face à sua vida mas também à de todos nós e de todos os tempos.
O tempo é o lugar do encontro permanente e dinâmico com o Deus da nossa história humana que é também história de Salvação.
O tempo de Deus aparece aqui muito distinto do tempo do Homem. Não se trata de um tempo cronológico, o tempo da nossa existência fisica e biológica, mas de um tempo Kairológico, tempo da intervenção na história humana para salvar.
Olhar o tempo e a história como Moisés o manifesta ao dirigir-se ao Senhor exige de nós a lucidez e maturidade para aceitar o tempo da nossa história como consciência de uma história vivida e assumida. Esta não tem forsosamente que ser um fardo pesado do passado mas uma realidade assumida e vivida como caminho para a “Parusia”, a manifestação última de Deus.
Por isso Moisés exclama: “Ensina-nos a contar assim os nossos dias, para podermos chegar ao coração da sabedoria”, e leva-nos a nós a colocarmo-nos diante do coração do Deus de Jesus Cristo que nos redime pela Sua infinita misericórdia na entrega gratificante de Seu Filho. O tempo, com os seus limites e fraquezas não pode fazer com que o cristão fuja dessa realidade de caminho para o coração de Deus. Cristo consuma na Sua história humana a grandeza do “sem limite” assumindo em definitivo a missão que lhe é dada pelo Pai de, no meio da dor, salvar toda a Humanidade: «Meu Pai, se este cálice não pode passar sem que Eu o beba, faça-se a tua vontade!» (Mt 26, 42). Desta forma Cristo consuma a Sua perfeição e abre caminho para que possamos nós também consumar a nossa. Ele ajuda-nos na medida em que consegue permanecer no desafio de vencer a prova da vida de que nos fala o Apóstoloa Paulo ao dizer que:
Nos dias da sua vida terrena, apresentou orações e súplicas àquele que o podia salvar da morte, com grande clamor e lágrimas, e foi atendido por causa da sua piedade. Apesar de ser Filho de Deus, aprendeu a obediência por aquilo que sofreu e, tornado perfeito, tornou-se para todos os que lhe obedecem fonte de salvação eterna...” (Heb 5, 7-9)
Cristo experimentou também o sofrimento humano e isto leva à credibilidade diante dos nossos olhos. Este sofrimento que atinge o âmago da nossa fé em Cristo e na Sua acção redentora, é como que a prova de que Ele afinal quer salvar passando pela prova de fogo a que o ser humano está sugeito na sua condição mortal. Desta forma, Paulo, convida-nos a colocar o nosso olhar em Jesus na medida em que Ele deu testemunho de redenção com a própria vida. Cristo estabelece, assim, como que um novo tipo de fidelidade com orações e súplicas e é atendido por causa da Sua piedade. Continuará o texto de Paulo a referir que Cristo recebe a proclamação sacerdotal.
Em Cristo o Homem todo ganha uma nova dignidade diante do grande mistério Pascal. A morte não é assim um momento de derrota mas de vitória para aqueles que creem em Cristo. Neste aspecto é bom recordar aqui S. Francisco de Assis na sua quinta exortação quendo diz: “Ó homem, considera a quanta grandeza o Senhor te levantou, pois te criou, dando-te um corpo à imagem do seu Filho dilecto, e dando-te um espírito à sua própria semelhança (Gn 1, 26). E, no entanto, todas as criaturas que há debaixo dos céus, cada uma delas, a seu modo, serve e reconhece e obedece ao seu Criador, bem melhor que tu o fazes. (...) podemos, sim gloriar-nos nas nossas fraquezas (2Cor 12, 15) e no carregar às costas, cada dia, com a cruz de Nosso Senhor Jesus cristo (Lc 14, 27).” (Exortação 5)
Voltando ao início das nossas reflexões, e à frase de Hipócrates, a vida cronológica de Francisco, tal qual a de Cristo, foi curta mas a vida da sua kairologia continua a alongar-se em cada dia, e já lá vão oito séculos de mensagem franciscana, onde a mensagem de Cristo está sempre bem patente e actuante em cada um de nós.
Assim a vida é vista como a arte que perdura na história e ninguém como Francisco a soube viver em beleza diante de Deus. O magnífico Cântico da Criaturas, ou do Irmão Sol, são o mais perfeito reflexo desta
arte vivida e perpectuada por Francisco de Assis, no seguimento de Cristo.

01 setembro 2008

Varatojo: Acolhimento e presença de Deus

Depois de um tempo de férias, e delas tanto poderia partilhar, do ser Marta e Maria, do acolhimento na AMIZADE, na disponibilidade da ajuda desinteressada ao outro, da oração e lazer, da lágrima e do riso... dizia eu que depois deste tempo, um novo tempo chega, o de parar para o encontro com Deus, em retiro no magnífico Convento de Varatojo, para voltar à acção e Missão que Ele continua a pedir para cada momento.
Parar leva mais uma vez à partilha simples e humana do que Deus vai proporcionando a cada dia, com a ajuda do orientador e da partilha fraterna, alicerçada sempre na oração.

Uma frase permanece na nossa reflexão e que se irá revelando a cada momento: “A vida é curta e a arte é longa” (Hipócrates)
O ponto de partida que me acolheu neste retiro é o texto de Elias no Monte Horeb:
“Tendo chegado ao Horeb, Elias passou a noite numa caverna, onde lhe foi dirigida a palavra do Senhor: «Que fazes aí, Elias?» Ele respondeu: «Estou a arder de zelo pelo Senhor, o Deus do universo, (...)» O Senhor disse-lhe então: «Sai e mantém-te neste monte, na presença do Senhor; eis que o Senhor vai passar.» Nesse momento, passou diante do Senhor um vento impetuoso e violento, que fendia as montanhas e quebrava os rochedos diante do Senhor; mas o Senhor não se encontrava no vento. Depois do vento, tremeu a terra. Passou o tremor de terra e ateou-se um fogo; mas nem no fogo se encontrava o Senhor. Depois do fogo, ouviu-se o murmúrio de uma brisa suave. Ao ouvi-lo, Elias cobriu o rosto com um manto, saiu e pôs-se à entrada da caverna.» (1 Rs 19, 9. 11-13)

Este é, sem dúvida, um texto que nos remete para a presença de Deus na nossa existência, mais ainda, para a presença de Deus que não quer passar por nós sem que O acolhamos quase diria olhos nos olhos para sentirmos que estamos de pé numa atitude de acolhimento e confiança n’ Aquele que quer ficar em nossa casa.
É na noite escura da caverna, no medo dos que trairam a Aliança com Deus e que querem matar o Profeta, que Deus visista e fala. O medo, desânimo, falta de esperança leva-nos muitas vezes a esconder o rosto e silenciar as palavras. Foi assim com Elias e é assim connosco. Mas aí está Deus atento à nossa súplica silenciosa e à capacidade que temos de continuar a profetizar em Seu Nome.
Somos como Elias, tantas vezes fechados em nós mesmos e com medos do que nos rodeia. É a nossa história que está ali presente na história humana do Profeta.
E Deus também a nós nos pergunta o que fazemos escondidos de nós, dos outros e até mesmo d’ Ele. O nosso medo não limita o querer de Deus e não impede que Ele continue a desafiar-os antes de mais para nos levantarmos e nos colocarmos na Sua presença.
Como Elias somos desafiados a sair da nossa caverna, da nossa noite escura, para nos abrirmos à graciosa manifestação de Deus. Sair da caverna é sair do recôndito da nossa auto-suficiência que deu lugar ao desânimo, ao abatimento, à frustração e ao medo.
Sair é a atitude de quem respira fundo e retoma a confiança em quem se nos manifesta e partilha amor connosco.
A manifestação de Deus a Elias leva-o a permanecer no firme querer de Deus e a cobrir o rosto porque Deus não se podia olhar. Mas volto a dizer que para Elias certamente o olhar Deus não era expressão física mas espiritual, o olhar de quem escuta e responde amorosa e livremente. Cobrir o rosto é aqui sinal de humildade diante da grandeza de Deus, é como que silenciar todos os sentidos que possam perturbar a presença do Pai. Cobrir o rosto é ir mais longe do que cobrir uma parte do corpo, trata-se de cobrir o intelecto para que a procura da racionalização, desta manifestação Divina, não faça afastar mais do querer e da presença de Deus. A minha inteligência não pode coarctar a acção divina em mim e por mim, não pode ser travão à minha resposta a Deus. Isto implica da minha parte uma atitude positiva face ao escuro da caverna (VIDA), implica o entrar, escutar a voz na escuridão, levantar e sair para a Luz, implica uma atitude de despojamento pessoal.
Como Elias, somos chamados a fazer esta experiência de Deus que começa por ser um desafio ao acolhimento: “levanta-te e permanece na minha presença”, à comunicação entre Deus e o Homem e por isso mesmo à íntima comunhão. A entrada da caverna, como a porta da nossa casa, é o lugar do acolhimento. Às escuras não podemos ver quem está a bater e a chamar, é preciso sair do nosso eu “escuro” para olhar e acolher quem bate e chama.
Deus não está no escuro da vida, não como nós pensamos muitas vezes, mas também não está nas manifestações do tempo como se pensava então. Deus está no novo de cada dia, nas coisas simples e não tempestuosas, Deus está na brisa suave da manhã.
Esta reflexão leva-nos a pensar no murmúrio dos nossos dias, nas inquietações e medos que tantas vezes nos remetem para a caverna e para a falta da presença de Deus. Remete-nos também para a experiência desta manifestação Divina, experiência da acalmia de Deus na medida em que somos capazes de silenciar as nossas razões e questões para no silêncio ouvir o querer de Deus que fala.
Hoje a serenidade da presença de Cristo em nós, que nos revela a presença do Deus de Elias, faz de Varatojo o lugar do acolhimento e da presença de Deus.



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