Hoje a Igreja celebra a Festa da Apresentação de Jesus no Templo.
Não se trata apenas da apresentação de um Menino ou o simples cumprimento da Lei. Diz o Povo, e assim o rezamos no Terço, que é também o dia da Purificação de Maria a Mãe. Por isso em muitos lugares do mundo hoje se celebra o dia de Maria em tantas invocações como: da Purificação, da Candelária, das Candeias ou da Luz (pelo ritual próprio da bênção das velas no início da Eucaristia), entre tantos outras.
Cristo é apresentado, consagrado ao Pai no Templo segundo a Lei.
Ao oferecer Jesus, Maria oferece-Se também com Ele. Ela será uma presença constante na vida do Seu Filho, dando a Sua colaboração para a obra da Redenção. Por isso Ela é Redemptoris Mater, Mãe do Redentor e co-redentora com o Filho.
Neste dia quis a Igreja celebrar um outro acto oblativo importante: o de tantos Homens e Mulheres que se Consagram ao Senhor pelos votos evangélicos.
É hoje, por isso, o DIA DO CONSAGRADO.
Todos somos consagrados desde nosso baptismo, é um facto, mas hoje a homenagem vai para aqueles e aquelas que deixaram tudo e partiram cumprindo o chamamento de Deus a uma missão específica na Igreja. Dos consagrados pelo baptismo, Cristo Consagra alguns para viverem a missão religiosa de uma forma mais intimamente unida a Si mesmo, na oferta do tudo que são como dom recebido de Deus e ofertado por amor da Humanidade. Padres, Religiosos e Religiosas, Missionários e Missionárias, de Ordens Religiosas, Congregações, Institutos, Sociedadescde Vida Apostólica, Pias Uniões, de vida activa, contemplativa ou eremitica…
A consagração religiosa é o seguimento evangélico de Cristo. Ele chama pessoalmente a uma vocação, chama a viver como Ele, tornando-nos assim participantes da sua missão evangelizadora. A Consagração não é uma iniciativa humana mas divina onde o Consagrado assume na sua vida a vida de Cristo, os seus riscos e esperanças, as suas preocupações e o seu projecto existencial, as suas atitudes vitais e essenciais. Trata-se de uma plena transfiguração com Cristo, pobre, obediente e casto.
Consagrar é tornar santo, é levar o Homem todo à esfera do Sagrado. Assumir uma vida de consagrado por amor do Reino dos céus é entregar-se totalmente nas mãos de Deus, é como que assinar ao fundo de uma folha em branco deixando que Deus escreva cada linha do resto da nossa história assumida. Ser Consagrado é sentir-se em relação íntima e directa com Deus e levá-lO aos outros onde Ele nos envia, com carismas e missões pessoais e comunitários. Ser Consagrado é entregar-se nesta confiança absoluta de que Deus cuidará de cada uma das linhas que Ele, por nós, escreve na folha assinada em branco, é deixar-se possuir livremente por Ele, acolher alegremente, e com a vitalidade que as forças humanas permitem, a acção santificadora de Deus, consentindo-a de forma a podermos dar e dar-nos a nós mesmos sem reservas, como resposta amorosa à auto-entrega de Deus sob o impulso da Sua graça.
O Consagrado entrega-se a Deus em liberdade total. Como Paulo sente que já não é ele que vive mas Cristo que vive em si e por seu intermédio actua para salvação de todos. Consagrar a Deus a nossa liberdade e toda a nossa capacidade de amar, não se trata de uma negação de nós mesmos. Trata-se outro sim da afirmação plena dos valores humanos que são dom de Deus e que lhe entregamos. Converter a nossa liberdade de Consagrados e o nosso amor em entrega total a Deus é deixar-se possuir pelo Seu amor infinito e isto não nos tira a liberdade, devolve-a de forma suprema tornando-nos mais livres para amar na media em que Deus cria e fortalece essa mesma liberdade.
A consagração não é algo para nós mesmos, não se encerra no nosso claustro. Ela implica uma relação pessoal de tu a tu entre Deus e o Consagrado. É nesta relação que está implícita a renúncia ao mundo e a tudo o que nos afasta do chamamento de Deus. Mas não podemos esquecer que esta renúncia tem em si a doação amorosa que leva ao compromisso, Profissão de votos feitos a Deus por meio da Igreja. Este Profissão leva-nos de forma mais radical a renunciar à própria auto-suficiência e autonomia, para encontrar em Deus e na plena e total dependência dele, maior autonomia, suficiência e liberdade.
A Consagração religiosa tem um valor teologal extremamente importante na medida em que, o religioso, não se entrega ao culto, ao serviço, à glória de Deus mas sim ao próprio Deus que o chama, consagra e envia. Pela sua virgindade e oração ele perpetua o viver imediato para o Pai que se incarnou intimamente na sua vida pelo Seu Filho Jesus.
Abdicando de uma vida matrimonial, pelos votos, o religioso tem como meta a identificação mais íntima e profunda com Cristo. Não se trata de amar uma esposa ou esposo, os filhos e filhas mas ter o coração livre para amar toda a Humanidade a quem é enviado a anunciar a Boa Nova com o testemunho da própria vida.
Mas o Consagrado, salvo alguns estilos próprios de vida, não vive centrado em si mesmo. Ele é chamado a uma vida fraterna e comunitária. Se a fé cristã só tem sentido quando celebrada e testemunhada na comunidade dos crentes, como no-lo referem os actos dos apóstolos, também a vida religiosa, na maior parte das suas expressões, só faz sentido numa vida comunitária de irmãos e irmãs, no dizer de Francisco de Assis, em uma verdadeira Fraternidade. A vida comunitária é o núcleo essencial da vida do religioso, é aí onde se confronta consigo mesmo, com os outros e com o próprio Deus. Só neste confronto se pode escutar verdadeiramente a voz d’Aquele que nos chamou porque é na voz dos que se sentiram chamados, como nós, que Deus continua a apontar o rumo a seguir.
Resumindo: A Consagração religiosa, realizada por Deus mediante o compromisso livre e definitivo do cristão de viver em estado de virgindade, de pobreza, de obediência e de Fraternidade, expressa-se na oração – vida e experiência fé, com o olhar posto em Deus –, em amor fraterno – vida de família e comunhão com os irmãos e irmãs – e em serviço apostólico – vida de serviço a toda a Igreja –. A oração, pessoal e comunitária, a fraternidade e o apostolado são a própria consagração em exercício expressando na vida consagrada um dinamismo cada dia mais renovado, ainda que por vezes se sinta que há crise de vocações.
Maria, a Senhora que apresentou o Seu Filho no Templo, tal como não entendeu o que disseram os pastores e os Magos, também não entendeu o que disse ali o velho Simeão e a profetiza Ana. Quantas vezes somos como Maria, na Vida Consagrada, Homens e Mulheres que tudo deixaram para uma entrega total, sem entender os desígnios e os caminhos que Ele traça para seguirmos e, silenciamos no mais íntimo do coração.
(Reflexão feita a partir de texto de M. Alonso Severino)
Senhora minha, Mãe dos Consagrados,
neste dia quero entregar-te todos aqueles e aquelas que,
ao longo destes meus 20 anos de Vida Religiosa e Franciscana
foram testemunho, amparo e mão amiga.
Concede-nos Maria, a graça de oferecer ao Pai,
não um casal de pombas, pela nossa pobreza,
mas tudo o que somos e temos,
tudo é d’Ele e a Ele entregamos.
Como Tu, Maria, Senhora do Sim a Deus e à Humanidade
quero dizer com tantos Sacerdotes,
religiosos e religiosas,
missionários e missionárias,
irmãos e irmãs em formação,
comtemplativos e fraternidades de vida activa.
Com todos estes
quero ser fiel até ao fim.
Contigo; Maria e Mãe, no mais íntimo do meu coração
de filho pecador me abandono nas mãos do Pai:
“Ecce Fiat Magnificat”…
Frei Albertino S. Rodrigues O.F.M.
02 fevereiro 2007
DIA DO CONSAGRADO
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11 comentários:
Só hoje tive oportunidade de passar por este teu espaço,preenchido com retalhos de vida que connosco partilhas.
Hoje, louvo de maneira especial o Criador pelo Dom da tua vocação consagrada.
Pax et Bonum! :)
Dia do Consagrado...
Quem sou eu?
Que diferença entre mim e outros...
Eu, consagrado. E os outros?...
Que mereci eu para ter este privilégio?
Amo o que sou. Amo-me.
Agradeço Àquele que me fez seu consagrado.
Amo os outros irmãos
todos os do mundo,
consagrados ou não,
mas a quem o mesmo Deus ama com a sua ternura infinita e amor eterno.
SÓ O AMOR CONSAGRA.
Consagrado para amar...
Como Jesus.
Como Maria!...
Meu Deus, quão grande é a tua bondade!...
Obrigado, querido irmão Albertino,
pelo lindo texto que partilhas.
Frei Armindo
Parabéns e obrigada -
- por esta reflexão partilhada
- pelo dia dos consagrados
- pelo seu testemunho de fidelidade à Consagração
- por ser quem é e como é...
Felizes os pés do mensageiro que anuncia Paz e proclama a Boa Nova....
Uma oração especial por todos os consagrados e em particular por ti... pelo Dom da tua vida. Não pares de caminhar....pois a vida como Dom é um TESOURO!
Não é a primeira vez que visito este lugar, mas é a primeira vez que não quero ficar no silêncio. Li o texto. Este dia transporta-me para o meu imaginário de infância onde a “candeia” sempre esteve presente. Tenho saudades dela. Muitas. Mas é por ser o “Dia do Consagrado” que quebro o silêncio: Não quero deixar de agradecer, a si, Frei, e a todos os Consagrados a Deus, o DOM de todos os que, hoje, ainda têm a coragem de se doar, voluntariamente, ao serviço de Deus e, por Ele, ao semelhante. Nem sempre esta entrega, parece ser mesmo real mas, na verdade, nós, simples cristãos, temos muita culpa: pelo que não ajudamos, pelo que não facilitamos, pela nossa falta de Oração. Sempre senti que Benditos são os pais que conseguem educar um filho que tem a coragem de se despojar de tudo para se colocar ao serviço de Deus e do semelhante; sempre agradeci a felicidade de contactar com alguns deles. Que Dom Deus lhes concedeu, também! Que exemplos de entrega!
Em si, Frei e presença de Deus, AGRADEÇO, todos (as) que são e nos oferecem Deus no nosso dia-a-dia, e peço que ELE os fortaleça com a Sua Bênção.
C.Gomes
Bem haja Frei, por mais esta linda partilha
que se tornou mais bela com esta música tão suave...
ou não ser hoje, o seu, o meu e o nosso dia...
Louvo o Senhor de uma maneira muito especial,
pelo DOM da sua vocação, da minha vocação,
e pela vocação de todos os consagrados e consagradas,
que se entregaram e entregam a DEUS em LIBERDADE total diariamente.
Nós que todos os dias actualizamos e renovamos o nosso
compromisso de opção preferencial por Cristo,
a fim de que a nossa doação a ELE, comprometa
toda a nossa existência...
Peçamos ao Senhor
para que a vida consagrada e, concretamente
a vivência dos conselhos evangélicos
continue a ser sinal e profecia dinâmica
de Fidelidade criativa, que tenha como
referência primordial aquela forma de VIDA
que Jesus assumiu e propôs aos que O seguiam.
Bonita reflexão sobre MARIA Mãe dos Consagrados
Magnifico ECCE FIAT e MAGNIFICAT.
Graças Pai por tanto Dom...
L. C.
(a seguir a este comentário era feita uma reflexão com o título "COMPROMISSO GENEROSO". Tomo a liberdade de o não deixar aqui ao jeito de comentário, mas de o publicar com título no blog. Obrigado pela sua Consagração e partilha... Frei Albertino)
Obrigada pela reflexão. gostei particularmente desta afirmação:«A Consagração não é uma iniciativa humana mas divina onde o Consagrado assume na sua vida a vida de Cristo, os seus riscos e esperanças, as suas preocupações e o seu projecto existencial, as suas atitudes vitais e essenciais. Trata-se de uma plena transfiguração com Cristo, pobre, obediente e casto.» Quando isto é traduzido numa vida de fidelidade, é com certeza, fonte inesgotável de paz e de felicidade. num mundo tão carecido destes bens, passa por aqui o testemunho de vida dos Consagrados. Assim Deus nos ajude!
Catita
Frei Albertino, permita-me que coloque aqui, no seu blog, um texto acerca deste dia, dia que gosto de recordar como de Nossa Senhora das Candeias. Retirado da minha “folha” Dies Domini.
Um abraço fraterno, de Paz e Bem.
Ei-lo:
“O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo estenderá sobre ti a sua sombra” (São Lucas, 1-35).
Tenho, há vários anos (desde 1995), um papelinho, obviamente já amarelecido, escrito por mim, acerca do dia 2 de Fevereiro, dia de Nossa Senhora das Candeias. Papelinho esse retirado dessas agendas “filofax”, e que tem transitado de agenda em agenda, com o decorrer dos anos.
São as “memórias” que transpus para o papel de uma Missa celebrada no dia 2 do mês de Fevereiro do referido ano, ali na Igreja de Nossa Senhora da Encarnação, ao Chiado.
Gostava de ouvir aquele padre, já velhinho mas cheio de vigor, que ao tempo ali se encontrava. Não recordo o seu nome. Sei que ele, na Missa das 19H, fazia sempre uma introdução ao Santo do dia e salientava os principais aspectos da sua vida.
Era um tempo em que eu procurava esquecer as agruras da vida e tentava mergulhar na paz de Jesus, a qual, como sabemos, nada tem a ver com a lógica dos homens e com o seu violento quotidiano.
Ora, este dia, também denominado de Purificação de Nossa Senhora – Purificação da Santíssima Virgem e da Apresentação do Menino Jesus no Templo - faz-nos recordar a Lei mosaica: a mulher que tivesse um filho varão, primogénito, consagraria este a Deus. Para a mãe poder ficar com ele, para “resgatá-lo”, tinha de ir ao Templo fazer uma oferta.
As pessoas pobres, como Maria, ofereciam rolas ou pombinhas. Também era necessário aguardar 4o dias, tempo necessário para a mulher ficar pura, após o parto. Com efeito, após ter o filho, a mulher daquele tempo era considerada “impura” durante aquele lapso de tempo.
Na poesia cristã, imagina-se uma “procissão” de Nossa Senhora, levando o Menino Jesus ao Templo. Ora, em consonância com aquilo que Jesus afirmou – “ Eu sou a Luz do Mundo” - Nossa Senhora transportava essa mesma Luz do Mundo… como hoje nós já não podemos levar o Menino Jesus ao colo (quem nos dera!...), transportamos uma vela, que significa essa mesma Luz de Jesus Cristo.
Quando deixamos uma vela acesa na Igreja, tal significa que, embora não estejamos presentes fisicamente, estamos contudo presentes em espírito.
Prestamos assim homenagem a Deus, e reafirmamos a nossa Fé. Não é “beatice” – é, tão simplesmente, manifestação da nossa Fé.
A vela vai-se gastando…também a nossa vida vai-se consumindo para as coisas deste mundo, e tendemos para as coisas do Espírito, para Deus. Vamos mergulhando no essencial, no Mistério que cerca os nossos dias…
Cabral-Mendes
Caríssimo Cabral-Mendes.
Paz e bem.
tenho toda a alegria em colocar aqui a sua partilha. É para isso que este pobre blog serve, partilha dos retalhos da VIDA, a minha e a de quentos, mesmo que eu não conheça por aqui se dignarem passar e deixarem palavras de amizade.
Gostei da forma como fala desta festa bonita, Festa da LUZ que é Cristo e que o tempo, depois de tantas agruras e caminhos tantas vezes longe da LUZ, nos leva a reencontrar a força do amor DELE que nos fala pelos padres velhinhos que guardamos na memória.
A lógica de Deus não é a nossa, é um facto. Cabe-nos prescrutar em cada dia o que Deus quer de nós e, ao sentirmos que nos ausentamos do querer de Deus, olhar de novo para o alto para que o calor e amor do Cristo que se oferece no Templo, por Maria e José, nos contagie e nos faça novas centelhas que irradiem pelo mundo o testemunho e partilha que leva à certeza de que somos muitos os que, nos caminhos perdidos deste mundo, nos reencontramos com o amor infinito de Deus.
Obrigado pela sua partilha. eus o abençoe.
A.R.
Obrigado, Frei Albertino, pelas suas (imerecidas) palavras. Quanto ao seu blog, permita-me que o corrija: ele não é "pobre", bem pelo contrário, é rico em substância, aquela substância que nos faz tanta falta no nosso dia-a-dia...
Um abraço fraterno.
Cabral-Mendes
Não sei quantas vezes já li este texto... mas finalmente vou ter coragem para comentar.
É um texto perfeito do princípio ao fim, deixa-me maravilhada!
A vida Consagrada não posso dizer que é uma coisa que me passa ao lado, tenho uma enorme admiração por todos aqueles que são chamado e aceitam o convite de Deus a ser uma folha branca escrita depois por Ele.
Uma entrega total à Humanidade... Uma união total ao Pai.
Acho que cumpri os votos por vezes deve ser complicado, admiro a força que vem Dele que leva os escolhidos a conseguir cumpri-la.
Através deste comentário dou os Parabéns a todos os Consagrados.
Neste momento entrego nas mãos do Pai, se esse for a sua vontade de me dar a Ele, rezo através deste texto por todos aqueles que se sentem chamados mas que estão presos demais a outras coisas e não tem coragem para dar o passo em frente, no total passo que parece no escuro mas é para a Luz de Cristo, o passo para a Nossa Luz do Mundo.
Seja por caridade!!!
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