VIDA e a LEI...

Hoje veio-me à mente, depois de tantos argumentos, pelo sim e pelo não, uns com lógica e outros sem ela, o texto de Mateus, no capítulo 23, colocando na boca de Jesus palavras duras de verdade e justiça.
Fiz delas a reflexão do fim do meu dia e, como não podia deixar de ser, rezar tudo o que ouvi e vi sobre argumentos que têm a VIDA HUMANA como centro de uma “guerra” onde os visados parecem não ter opção alguma a não ser esperar um sim ou um não.
Confesso que me irritam algumas formas de apelar ao voto, argumentos que, em ambas as frentes, dizem estar a defender a Vida. Se por um lado dizemos sim à mulher que tem direito a fazer o que quer da sua barriga, sem pensar no ser que ali é já uma realidade, por outro nega-se a este SER, chamado à VIDA desde a sua concepção, a oportunidade de poder viver a vida a que foi chamado.
“Ai de vós, doutores da Lei e fariseus hipócritas, porque fechais aos homens o Reino do Céu! Nem entrais vós nem deixais entrar os que o querem fazer”. (Mt 23, 13)
O papel de um Sacerdote não é o de julgar nem condenar, é o de escutar, amar e perdoar. Foi para isso que Cristo nos chamou e envia a cada momento.
Mas cabe-nos a todos, sacerdotes ou não, fiéis ao mandamento “NÃO MATARÁS” zelar para que o mundo seja justo, para a mãe e para o bebé, para quem sofre, grávida ou bebé indefeso.
Hoje, na comunicação social, fazia-se gala – como se diz na minha terra – com gente que se diz Católica apelar ao sim: “sou católica e não admito que a Igreja ou padre algum me chame assassina” ouvi ainda há momentos em dois noticiários.
Conheço Católicos que votarão sim e nem por isso lhes aponto o dedo directamente, nem mesmo o quero fazer indirectamente contudo, não posso aceitar que gente só se diga Católica numa situação destas e queira daí anunciar aos quatro ventos que os outros Católicos com os seus pastores estão completamente errados. Católicos que certamente receberam Sacramentos, talvez o Crisma, onde já por sua opção aderiram a Cristo e à Palavra revelada. Fizeram juramento ao Senhor de procurar viver os mandamentos… “Ai de vós, guias cegos, que dizeis: ‘Se alguém jura pelo santuário, isso não tem importância; mas, se jura pelo ouro do santuário, fica sujeito ao juramento.’ Insensatos e cegos! Que é o que vale mais? O ouro ou o santuário, que tornou o ouro sagrado?” (Mt 23, 16-17)
Nesta altura parece que todos os Católicos apontam dedos e condenam os outros irmãos seus, que rezam e comungam ao seu lado. Não! Isso não é verdade. Eu respeito quem pensa de forma diferente da minha e, como Católico, apenas quero dizer SIM À VIDA e interpelar a que os outros o façam.
Falamos tanto de injustiças neste mundo, dos pobres, doentes, crianças abandonadas, marginalizados e – ouvia eu dizer ainda ontem – era melhor não terem nascido do que estarem a viver a situação que vivem. Será culpa de terem nascido? Não será culpa de um Estado que pouco ou nada se preocupa em fazer cumprir leis que dignifiquem estes nossos concidadãos mais debilitados e fragilizados? Para onde vão os milhões de euros que pagamos em impostos? Para onde irão os mesmos a partir do dia 11 se um sim (que é não à vida) ganhar? Como posso eu dormir descansado sabendo que o Estado me obriga a pagar impostos para algum financias clínicas de interrupção voluntária da gravidez? E fecham-se maternidades, aumentam-se preços de bens de primeira necessidade, criam-se leis para proteger os que menos se preocupam com o bem comum.
“ Ai de vós, doutores da Lei e fariseus hipócritas, porque pagais o dízimo da hortelã, do funcho e do cominho e desprezais o mais importante da Lei: a justiça, a misericórdia e a fidelidade! Devíeis praticar estas coisas, sem deixar aquelas. Guias cegos, que filtrais um mosquito e engolis um camelo!” (Mt 23, 23-24)
Talvez eu faça parte destes a quem Cristo se dirige quando, no meu dia a dia, me preocupo com a mesquinhez de tantas leis e normas, ditadas por aqueles que por nós foram votados, e não nos preocupamos com as leis de Deus, leis de Justiça, Misericórdia e Fidelidade ao projecto que Ele tem para cada Homem, ser feliz.
E andamos nos meios de comunicação social a dizer que somos católicos mas votamos sim à despenalização voluntária da gravidez. Que sabor amargo terá Cristo no Seu oferecimento amoroso por nós. Ele deu a vida por todos os seres chamados à Vida. Ou chamaremos Vida apenas ao que já está fora do ventre materno?
Preocupamo-nos tanto com o que os outros dizem de nós, sim nós que tantas vezes nos dizemos Católicos mas não praticantes, Católicos mas para quem os Sacramentos não têm valor algum. O que será mais importante na opinião dos outros, o nosso exterior ou o nosso interior, tudo o que temos e somos como DOM DO DEUS DA VIDA?
“Ai de vós, doutores da Lei e fariseus hipócritas, porque sois semelhantes a sepulcros caiados: formosos por fora, mas, por dentro, cheios de ossos de mortos e de toda a espécie de imundície! Assim também vós: por fora pareceis justos aos olhos dos outros, mas por dentro estais cheios de hipocrisia e de iniquidade.” (…) edificais sepulcros aos profetas e adornais os túmulos dos justos, dizendo: ‘Se tivéssemos vivido no tempo dos nossos pais, não teríamos sido seus cúmplices no sangue dos profetas!” (Mt 23, 27-30)
Não quero ver nenhuma mulher chorar, não quero ver nenhuma mulher presa por ter cometido tal acto, pensado ou impensado. Não! Tenho o mais profundo respeito pelas mulheres que sofrem por causa de uma violação, por uma gravidez de risco ou tantos outros casos já comtemplados na lei. Tenho respeito pelas mulheres que têm coragem de levar a VIDA até ao fim e de pedir ajuda a quem de direito. E aí, verdade seja dita, há que tecer algum louvor a muitas pessoas e Instituições dentro da Igreja Católica, não fora esta a que tem a seu cargo mais de 70% das IPSS, tantas delas ajuda à mulher e mãe solteira, orfanatos e casas de reinseão social. Atirar pedras na comunicação social a esta Igreja não me parece justo, não desta forma. Claro que recordo ser injusto algum tipo de argumentos de cristãos e sacerdotes zelosos no calor de um debate por algo que nem debate deveria ter de um sim ou um não porque o direito à vida é inviolável.
Termino pedindo perdão se feri alguém com a minha reflexão de hoje. Tenham a bondade de me perdoar mas não gosto de algum tipo de nariz empinado nas telas da TV… muito menos de gente que se diz Católica…
Que não se aplique a mim nem a quem luta, mesmo no sofrimento, a palavra de Cristo: “Assim cairá sobre vós todo o sangue inocente que tem sido derramado sobre a terra, desde o sangue do justo Abel até ao sangue de Zacarias, filho de Baraquias, que matastes entre o santuário e o altar. Em verdade vos digo: Tudo isto cairá sobre esta geração!” (Mt 23, 35-36)

OBRIGADO PAI POR MAIS UM DIA DE VIDA!